quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Registro 242: Sobre "MILK"

Vibrei com texto Milk, o preço da liberdade. Prontamente, solicitei do autor a permissão para transcrevê-lo aqui. Vale a pena ler o que diz Contardo Calligaris sobre Milk. O último parágrafo tem um sabor especial para mim. Gostaria de tê-lo incluído em Transas na Cena em Transe, Teatro e Contracultura na Bahia, mas não deu, visto que a tese foi concluída e apresentada publicamente em 2007. Poderia usá-lo como epígrafe no livro em processo de editoração, mas o trabalho está quase pronto e seria um transtorno para a editora. Mas acredito que não faltará oportunidade para citá-lo, já que ele é um pensamento afirmativo sobre a contracultura e seus efeitos. Para aqueles que acham que a contracultura no Brasil é circunstancial, fruto da repressão, o parágrafo tem muito a dizer, não como provocação, mas como estímulo para arejar o pensamento sobre o legado da contracultura histórica, aquela que balançou as estruturas do establishiment nos anos 60 e 70, lançando luzes sobre áreas sombrias da nossa existência e fornecendo pistas para o reencantamento do mundo.

"Milk", o preço da liberdade
CONTARDO CALLIGARIS

Para continuarmos livres, é preciso defender a liberdade do vizinho como se fosse a nossa.

Assistindo a "Milk - A Voz da Igualdade", de Gus Van Sant (extraordinário Sean Penn no papel de Harvey Milk), lembrei-me de um e-mail que recebi em abril de 2008. Era uma circular de www.boxturtlebulletin.com (um site sobre os direitos das minorias sexuais), que "comemorava" os 55 anos de um evento sinistro: em 1953, Dwight Eisenhower, presidente dos EUA, assinou um decreto pelo qual seriam despedidos todos os funcionários federais que fossem culpados de "perversão sexual". Essa lei permaneceu em vigor durante mais de 20 anos: milhares de americanos perderam seus empregos por causa de sua orientação sexual. Fato frequentemente esquecido (um pouco como foi esquecida, durante décadas, a perseguição dos homossexuais pelo nazismo), nos anos 50, no discurso do senador McCarthy, a caça às bruxas "comunistas" se confundia com a caça às bruxas homossexuais. Por exemplo, uma carta do secretário nacional do Partido Republicano (citada na circular) dizia: "Talvez tão perigosos quanto os comunistas propriamente ditos são os pervertidos escusos que infiltraram nosso governo nos últimos anos". Essa não era uma posição extrema: na época, a revista "Time" defendeu o projeto de despedir todos os homossexuais que trabalhassem para o governo federal.

É nesse clima que, nos anos 70, em San Francisco, Milk se tornou o primeiro homossexual assumido a ser eleito para um cargo público.

Poderia escrever sobre as razões que, quase invariavelmente, levam alguém a querer esmagar a liberdade de seus semelhantes. O segredo (de polichinelo) é que muitos preferem odiar nos outros alguma coisa que eles não querem reconhecer e odiar neles mesmos. E poderia contar a história de Roy Cohn, braço direito de McCarthy, que morreu, em 1984, odiando e escondendo sua homossexualidade e gritando ao mundo que a causa de sua morte não era a Aids (ele foi imortalizado por Al Pacino na peça e no filme "Anjos na América", de Tony Kushner).

Mas, depois de assistir a "Milk", estou a fim de festejar o caminho percorrido em apenas meio século: o mundo é, hoje, um lugar mais habitável do que 50 anos atrás. Aconteceu graças a milhares de Harvey Milks e a milhões de outros que não precisaram ser nem homossexuais nem comunistas nem coisa que valesse: eles apenas descobriram que só é possível proteger a liberdade da gente se entendermos que, para isso, é necessário defender a liberdade de nosso vizinho como se fosse a nossa. Nos anos 70, quase decorei a carta aberta que James Baldwin (escritor, negro e homossexual) endereçou a Angela Davis (jovem filósofa, negra e militante), quando ela estava sendo processada por um assassinato que não cometera, e o risco era grande que o processo acabasse em uma condenação "exemplar". Baldwin lembrava as diferenças de história, engajamento e pensamento entre ele e Davis, para concluir: "Devemos lutar pela tua vida como se fosse a nossa - ela é a nossa, aliás - e obstruir com nossos corpos o corredor que leva à câmara de gás. Porque, se eles te pegarem de manhã, voltarão para nós naquela mesma noite".

Os direitos fundamentais não são direitos de grupo, eles valem para cada indivíduo singularmente, um a um. É óbvio que grupos particulares (constituídos por raça, orientação sexual, ideologia, etnia etc.) podem e devem militar coletivamente pelos direitos de seus membros, mas, em uma sociedade de indivíduos, a liberdade de cada um, por "diferente" que ele seja, é condição da liberdade de todos. Por quê?

Simples: se meu vizinho, sem violar as leis básicas da cidade, for impedido de ter a vida concreta que ele quer, então meu jeito de viver poderá ser tolerado ou até permitido, mas ele não será nunca mais propriamente meu direito. "Milk" é um filme sobre um momento crucial na história das liberdades, mas não é um filme "arqueológico". A gente sai do cinema com a sensação renovada de que a militância libertária ainda é a grande exigência do dia. Ótimo assim.

Um amigo me disse recentemente que eu dou uma importância excessiva à contracultura dos anos 60/70. Acho, de fato, que ela foi a única revolução do século 20 que deu certo e, ao dar certo, melhorou a vida concreta de muitos, se não de todos. Acho também que suas conquistas só se mantêm pelo esforço cotidiano de muitos. Afinal (quem viu o filme entenderá), surge uma Anita Bryant a cada dia.
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Publicado originalmente em A Folha de S. Paulo, Ilustrada, em 26 de fevereiro de 2009.

Registro 241: Impressões carnavalescas

  • Não quero ser pessimista, mas alguma coisa estranha acontece com o Carnaval de Salvador. Seu gigantismo vai levando a festa pro brejo e não vejo muita saída para ela. O esgotamento do modelo que aí está é visível. Sabemos que não é o seu fim, a coisa ainda vai longe, mas a autofagia vai contribuir para o fim do modelo vigente. Lamenta-se o esvaziamento do circuito Osmar - Campo Grande. Mas se não me engano, lamentou-se o esvaziamento do Carnaval na Praça Castro Alves. O que o poder público não quer ver é que o tal esvaziamento é produto da comercialização do Carnaval. E não me venham com essa conversa de emprego e renda, quando os cordeiros ganham R$, 27,00, uns quebrados e parco lanche.
  • Já não se tira dinheiro do circuito Osmar, portando não há investimento, já que tudo é transferido para o circuito Dodô - Barra-Ondina, o mega-chic-carnaval dos camarotes, das grandes estrelas e das regras do mercado. É aí que todo mundo quer star, sobretudo a mídia, os globais, os políticos, as personalidades, os emergentes e também aqueles que querem um lugar ao sol. E a força da grana, não tem que segure. Ao mesmo tempo possibilitadora de coisas novas e interessantes, ela traz em si o próprio vírus da destruição, pondo por terra o que ela mesmo concebeu. O cantor popular já falou sobre isso referindo-se à cidade de São Paulo. O Carnaval de Salvador vai na mesma direção.
  • Não sou fã de Ivete Sangalo, como não sou fã das estrelas baianas criadas e desenvolvidas no laboratório da música Axé, termo impróprio, mas já institucionalizado. Mas não posso desconhecer a habilidade, inteligência e carisma de Ivete Sangalo no Carnaval. Ela, talvez seja a única estrela que vai para a avenida sabendo em que lugar está. Durval Lélis também sabe o que é fazer a festa. Nada de conceito pra gerar discurso, nada de show pra intelectual, nada de proposta vanguardista que se torna risível visto que é pobre e mal realizada. O que Ivete Sangalo faz é encarar o Carnaval como uma grande brincadeira. E ela sustenta essa brincadeira com profissionalismo de mega-empresária que sabe fazer tilintar moedinhas no cofre, o que todos fazem na avenida, mas a cantora não perde de vista a brincadeira, o jogo de se saber participante da folia. Veste sua fantasia, nada conceitual, nada extravagante, canta sucessos que fazem o folião pular, diverte-se divertindo os que estão na rua e em casa vendo-a pela televisão. Brilhante essa menina. Muito esperta, cativa o mais sizudo dos mortais. Por vezes sua irreverência descamba para a grosseria deselegante, destoando. Mas se pensarmos que a mola propulsora do Carnaval é a desrepressão e a elevação das partes baixas (os instintos) em detrimento da racionalidade e da metafísica, fazemos vista grossa, mas não deixa de ser grosseiro alguns dos seus comentários. Talvez se falasse menos e cantasse mais, sanaria o problema.
  • Ridículo os shows apresentados por Daniela Mercury. Eles atrasam o desfile e enchem a paciência do folião. Canta-se pouco e fala-se muito. Um discurso de frases feitas que não termina nunca. Além disso, escolheu roupas horríveis para si, e pior para os bailarinos. Aquela roupa dourada sem brilho vestida por ela, mais os figurinos dos dançarinos, era de dar dó. Quem concebeu aquilo não saca nada de folia momesca, não tem humor, não tem sagacidade criativa. Aquelas tocas e saias como se fossem crinolinas nas dançarinas já eram um horror, nos dançarinos, um desastre. E ninguém fala nada e todo mudo engole aquilo como se fosse uma novidade, uma invenção. Ridículo. Uma coisa velha travestida de nova. As coreografias, nem dá pra falar. Qualquer grupo de dança amador faz melhor. Cadê a assessoria? Triste quem acha que mega-estrela ouve assessoria, embora tenha uma monte delas, gente que diz amém, amém, amém.
  • Gerônimo foi um escolha pertinente para Rei Momo, embora continue achando que a escolha deveria passar por outro processo. Ele disse coisas sérias irreverentemente, como cabe a um Rei Momo que se preze. Além disso, por ter feito a bela canção que diz que a cidade é de Oxum, ele merece o aplauso dos soteropolitanos. Só por isso não deve ser esquecido nem ignorado.
  • A campanha do alleitamento materno foi às ruas e rendeu $$$$ matéria televisiva, quase todas na Rede Globo. Que a tal promoção surta efeito positivo para as mamães récem paridas e para o seus filhos.
  • Ação consciente e responsável a distribuição de camisinhas aqui e na Marquês de Sapucaí. Espera-se que a Camisa de Vênus tenha sido usada e de forma correta.
  • No domingo de Carnaval aconteceu mais uma cerimônia de entrega do Oscar. Mudou alguma coisa, mas ainda é demorada demais. Haja paciência pra aguentar. Mas esse ano melhorou. O deslize foi o Oscar para o comediante Jerry Lewis, outorgado por benemerência, como se ele não tivesse dado uma contribuição significativa para a sétima arte. Mas o velho ator, oitenta e tantos anos, foi elegante. Ao agradecer, expressou o seu espanto sobre premiar-se atos de benemêrencia. Saiu por cima O Professor Aloprado, diversão garantida nas matinês das décadas de 50 e 60.
  • Não se justifica a ausência de Leonardo Di Caprio na lista dos indicados para melhor ator. Seu trabalho em Foi Apenas um Sonho é superior ao de Brad Pitt, que tem uma boa atuação em Benjamin Button, mas sem a densidade para entrar na lista dos indicados. Não entendi. A família Ledger, elegante e discreta em sua dor, emocionou a platéia ao agradecer o Oscar póstumo para Heath Ledger. Ainda não vi as interpretações de Sean Penn e de Mickey Rourke, mas os membros da Academia puxaram a orelha de Rourke. A fala de Penn foi direta, sem meias palavras. As câmeras não precisavam apontar o roteirista de Milk durante a fala de ator, afinal de contas ele, o roteirista, já tinha saído do armário. Merecida a premiação de Kate Winslet por sua atuação em O Leitor. Somando-se ao superlativo trabalho em Foi Apenas um Sonho, gosto muito mais, a atriz de qualidades inegáveis demosntra que tem muito a realizar no cinema. Um achado trazer atrizes e atores premiados anteriormente para homenagear os indicados nas categorias em que eles foram premiados. Hugh Jackman mostrou-se competente, dança, canta e encanta com seu charme de homem bonito e sexy, escolha das revistas a qual me rendo. Penélope Cruz, demais! Não vi o filme, mas ela merece. Seu agradecimento simpaticíssimo e tocante
  • A feiúra dos camarotes no circuito Osmar era perceptível para os que tem um pouco de sensibilidade estética. Além de feios, não tinham bom acabamento. O Camarote Salvador, com aquelas colunas e lustres, era risível. Os emergentes deve ter adorado. O Harém era de um mau gosto atroz, principalmente no interior, mas deixa pra lá, não devemos perder tempo com esse assunto. Nada vai mudar mesmo.
  • Ouvir a família Macedo é sempre bom. Mas ouvir falação de cantor em cima de Trio Elétrico é dose! E a babação em frente ao camarote da TV Bandeirante? É de arrepiar. Baba o artista no Trio, baba os apresentadores, com aquela conversa mole, cheia de chavões repetidos a cada ano, como se tudo fosse igual, igual. Talvez seja mesmo, eu é que fico implicando. Mas a secreção escorrega e ninguém reclama. Para-se a animação para a rasgação de seda. Urg!
  • Li contos de Tennesseee Williams, edição da Companhia das Letras. Ainda não terminei. São 49 contos

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Regsitro 240: Revisitando o passado

Da esquerda para a direita: Imprensa Oficial e Biblioteca Pública de Salvador. Fotógrafo desconhecido, reprodução por Lita Cerqueira. O conjunto arquitetônico situava-se na Praça Tomé de Souza ou Praça Municipal e foi destruído no início da década de 70, quando da gestão de Antônio Carlos Magalhães .

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Registro 239: Depoimento II

O jornal O Estado de S. Paulo em seu Caderno 2 - Cultura - sempre aos domingos - apresenta um espaço denominado Antologia Pessoal, no qual profissionais das artes dão o seu depoimento sobre assuntos de sua área. As perguntas não variam, são sempre as mesmas. Ao apropriar-me da idéia, acrescentei uma pergunta e reformulei algumas; basicamente são as mesmas do jornal.Assim, convido artistas baianos ou residentes em Salvador para deixar o seu depoimento no blog Cenadiária. Cada participante indicará um artista para que se forme uma rede de registros e opiniões. Semanalmente, a Cenadiária vai trazer uma personalidade do teatro baiano para o deleito do leitor. Divirta-se.

NELITO REIS


Bacharel em Artes Cênicas pele Universidade Federal da Bahia, atualmente está em cartaz com o espetáculo Dona Flor e Seus Dois Maridos em turnê pela região sudeste. Entre seus trabalhos recentes, destaque para o musical Raul Seixas, A Metamorfose Ambulante, onde interpretou o falecido músico baiano, trabalho pelo qual foi indicado ao Prêmio Braskem de Teatro como melhor ator em 2005. No cinema fez os filmes de longa-metragem Revoada, de José Umberto Dias; Estranhos, de Paulo Alcântara e Strovengah, de André Sampaio, ainda não lançados.

1 – Que atores ou atrizes cujo trabalho em teatro você acompanha?
Me chama atenção o ator criativo que dá à personagem traços que talvez surpreendam até mesmo seu autor. Gosto muito do trabalho de Wagner Moura, como ele constrói as personagens, dando-lhes traços peculiares que os tornam diferentes entre si, falo isso, por entender o quão difícil é se despir totalmente inclusive de si mesmo e conseguir dar à personagem essa imagem nova, quando o público já está habituado a ver o ator em tantos outros papéis. Admiro a força da interpretação de Gideon Rosa e a verdade que ele imprime em suas construções, assim também Luiz Melo, Othon Bastos, Harildo Déda. Estes atores ganham tamanha dimensão no palco muito por conta da simplicidade como interpretam, econômicos em suas partituras, muito precisos, mas que acima de tudo nos situa na verdade daquela personagem que estão dando vida, por vezes até nos mostram novas facetas de personagens clássicos.


2 – Que atores ou atrizes de cinema compõem a sua galeria de favoritos?
Maryl Streep, Fernanda Montenegro, Kate Winslet e Irene Papas, esta última há muito sumida das telas, hoje, octogenária, dedica-se apenas ao teatro, e Ruth Gordon, que embora tenha visto em dois ou três outros filmes, admiro pela Maud do Ensina-me a Viver, de 1971. Sean Penn, De Niro, Dustin Hoffman, José Wilker, Matheus Nachtergaele.

3 – Qual diretor de teatro cujo trabalho faz você retornar ao teatro?
Ewald Hackler

4 – Dê exemplo de um criador teatral muito bom, mas injustiçado.
Injustiçado... não sei. Não sei.

5 – Cite uma criação teatral surpreendente e pela qual você não dava nada.
Não exatamente que eu não desse nada, não sou tão severo em minhas expectativas, mas sem citar exemplos me recordo da Escola de Teatro, onde vi muitos experimentos de colegas, com resultados muito bons, com resoluções maravilhosas, sobretudo diante da grande dificuldade que era montar trabalhos ali por falta de estrutura às vezes, até mesmo falta de espaço e a criatividade tinha que correr solta e muitas vezes traziam diferenciais inusitados às encenações. Tive a oportunidade de acompanhar isso como público em alguns e como ator em outros, destes processos. Vi peças montadas nos escombros do velho Martim Gonçalves, outras no canteiro de obras de reconstrução do novo, vi encenações nas escadarias do sobrado, do prédio anexo, nos jardins, até mesmo nos banheiros.

6 – A cena baiano-brasileira tem alguns momentos teatrais antológicos. Cite algumas que marcaram sua vida.
Nada Será Como Antes tem para mim a importância de ter sido o momento em que eu compreendi que queria fazer teatro; Ensina-me a Viver por ser minha única oportunidade de ver Nilda Spencer no palco, vi Nilda muitas vezes em televisão e cinema; Galileu, por ser um texto que me emociona muito (isso com certeza contrariaria Brecht) e pela atuação de Harildo; Recentemente O Que Eu Gostaria de Dizer, com Luiz Melo, quando curiosamente meus acompanhantes saíram comentando que a peça não dizia muito, quando estava eu com a voz embargada, emocionado, com tudo que sentia que a peça me falara diretamente.

7 – Que encenação lhe fez mal, de tão perturbadora?
Me fez mal? Acho uma colocação muito pesada, acredito que não passei por essa experiência ainda. Ou talvez possa citar uma experiência de palco e não de platéia. Vejamos, durante quatro anos participei da Paixão de Cristo em Lauro de Freitas (Bahia). Trata-se de espetáculo ao ar livre, apresentado na praça central daquela cidade, com público anual estimado em cerca de cinco mil pessoas. No primeiro ano interpretei o Rei Herodes e nos três seguintes representei Jesus Cristo, quando então era comum ser abordado por pessoas me pedindo que as tocasse, ou tocasse em seus filhos, parentes doentes. Eram três dias de apresentações e, ao fim do primeiro, eu já apresentava sinais de febre e muito cansaço. Ao fim do terceiro dia, amiúde eu baixava hospital. Isso aconteceu somente nos três anos em que fiz Jesus. Todavia, trata-se de um trabalho que me orgulha ter feito, tamanho o envolvimento da comunidade para a realização do evento.

8 – Que espetáculo teatral mais o fez pensar?
Graças a Deus foram vários, mas para responder a questão cito Material Fatzer, de Márcio Meireles, montada a partir da obra de Bertolt Brecht. Vale observar a curiosidade de que a cidade de Salvador passara naquele período por uma situação de insegurança sem precedentes por conta de uma greve dos policiais militares.

9 – Comédia é um gênero de segunda?
De forma alguma. Historicamente observamos na Grécia antiga a primazia da tragédia, sobretudo por sua relação com as Dionisíacas, que eram eventos de adoração divina e das quais só muito mais tarde as comédias passaram a fazer parte. Não há gênero de segunda, há trabalhos de segunda, terceira, quinta categoria, infelizmente, e por esse ponto de vista ha também dramas de segunda categoria. Acho que o público hoje em dia tem menos paciência com o drama (será?), mas mesmo esta preferência pela comédia, pelo besteirol muitas vezes fácil nos serve para reflexão, até porque dizem que a impaciência com o drama é pela pouca disposição à reflexão e que nas comédias essa reflexão fica mais diluída, facilmente digerível, não sei se é isso. Curto poder ir a um teatro e rir, loucamente, ver um besteirol bem comercial. Mas me sinto extremamente feliz quando vejo um bom espetáculo, drama ou comédia, que me faz refletir, questionar, discutir depois com alguém ou apenas pensar com meus botões.

10 – Cite uma peça difícil, mas significativa.
Acho que a dificuldade sugerida seria para fins de montagem, é isso? Acredito que O Menor Quer Ser Tutor, de Peter Handke, me parece um texto delicado, justamente por não ser uma peça falada, embora muito eloqüente (vai com trema mesmo). Nos anos 90 foi montada por Ewald Hackler na Escola de Teatro e recentemente ganhou uma adaptação maravilhosa que foi O Sapato do Meu Tio, com direção de João Lima.

11 – Cite uma encenação que imagina ter sido memorável e você não viu.
A Casa de Eros, espetáculo dirigido por José Possi Neto, em 1996, por ocasião dos 40 anos da Escola de Teatro da UFBA. A encenação, que ocupou todo o espaço do velho solar Santo Antônio, sede da escola, bem como o teatro Martim Gonçalves, apresentou um esboço histórico e mítico da relação entre aquela instituição e seu fundador, Eros Martim Gonçalves.

12 – Uma encenação difícil, mas inesquecível.
O Sapato do Meu Tio. Lúcio Tranchesi e Alexandre Casali me emocionaram muito. Uma das maravilhas dessa montagem era sua simplicidade.

13 – Que texto(s) escrito(s) nos últimos dez anos merecia um lugar na história do teatro brasileiro?
Cito, antes dos textos, três jovens dramaturgos, que pela força das imagens e profundidade de conteúdo que propõem em seus trabalhos já marcaram com certeza a história de nosso teatro: Cláudia Barral, autora de O Cego e o Louco, Cordel do Amor Sem Fim, O Que de Longe Parece Ser um Verso em Branco; Marcos Barbosa, autor de Auto de Angicos, Braseiro e Minha Irmã; Gil Vicente Tavares, autor de Os Javalis, Os Amantes II e Canto Seco.

14 – Qual o texto dramático clássico brasileiro, de qualquer tempo, você recomendaria encenações constantes?
Vereda da Salvação, de Jorge Andrade.

15 – Cite um(a) autor(a) sempre ausente dos cânones que merece seu aplauso?
Não saberia dizer, não costumo observar tais cânones.

18 – Que montagem (ou ator, autor, diretor, cenógrafo, figurinista, iluminador) festejado pela crítica você detestou?
Não me recordo de nenhuma. Certamente não gostei de algumas coisas, mas não me lembro de haver críticas em contrário.

19 – E que montagem (ou ator, diretor, autor) demolida por críticos você gostou?
Li uma crítica negativa à montagem de A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de André Paes Leme, em cartaz no Teatro SESC Ginástico, Rio de Janeiro em 2007, condenando a opção do diretor em transportar para o universo nordestino a linguagem e o universo mineiro, próprio de Guimarães Rosa, autor da obra. Ora, ainda que não fossem regiões tão semelhantes e até geograficamente próximas, não vejo gravidade em desconstruir textos, mesmo clássicos, aliás, quão interessante é justamente desconstruir principalmente o clássico, não é? Adaptá-las em outras culturas, dar-lhe frescor. A encenação em questão era irretocável em qualidade cênica, as contracenas, cenário e iluminação primorosos, números musicais emocionantes.

20 – Qual peça e personagem gostaria de fazer? Você pode escolher três.
Jamie Tyrone, de Longa Jornada de Uma Noite Adentro, de Eugene O’Neill
Robespierre, de A Morte de Danton, de Georg Büchner
Joaquim, de Vereda da Salvação, de Jorge Andrade

21 – Que virtude você mais preza no teatro de qualidade?
A verdade cênica.

22 – O que mais incomoda você no mau teatro?
A superficialidade da contracena, muitas vezes fruto de indisciplina do(s) ator(es) ou ausência de direção
.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Registro 238: Tem Rosas No Canteiro

Tem rosas nesse canteiro.
Há também silêncios e pausas,
evocações do sertão.
Há música em repouso
Música calada...
se é que pode existir
o som sem sonoridade.
Há personas que se desdobram
em personagens
e cantos que se esparramam
pelo espaço

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Registro 237: Evoé Baco

Viva Zé Pereira
Viva quem gostar
Viva Zé Pereira
No dia do Carnaval!

Carnaval traz boas recordações...
Desde a mais tenra infância, gostei muito da festança, pois em casa o meu pai comemorava a folia com tudo que tinha direito. No interior da Bahia, a partir da metade do anos 50, esperávamos, eu e meus irmãos, os três dias, desde o fim de janeiro. Aprendíamos as marchinhas ouvidas pelo rádio ou então pelo serviço de auto-falante. Esperávamos o Carnaval como desejávamos o São João e o Natal, sabendo o significado de cada uma das festas e suas particularidades. Essas festas eram comemoradas pela família e cabia a meu pai dar o tom, o pique, a alegria.
No Carnaval...
Lembro-me do meu pai com o grupo de amigos, todos vestidos de mulher, a dançar pela rua junto com o bando de mascarados e bloco de sujos. Essa imagem de desregramento e de comportamento fora da ordem fascinava-me. Ao mesmo tempo deixava em nós, seus filhos, um sensação de estranhamento. Era como se perdêssemos o pai. E perdíamos.
Durante os desfiles dos cordões e batucadas, quando o sol amenizava e a brisa cortava a avenida principal, as famílias colocavam cadeiras em frente às suas casas e viam o movimento da calçada, o subir e descer dos cordões, a batucada e Corró evoluindo montado na mulinha. E lá íamos nós, irmãos, primos, amigos, cada um com seu saco de confetes e rolos de serpentina, que eu não conseguia jogar. E lança-perfume Rhodo Metálico. Quanta inocência!
Apesar dos objetos desejados e curtidos delirantemente, nunca estávamos fantasiados. Bastava uma máscara de nome Dominó e pronto. Então, seguíamos a orquestra, cantando a plenos pulmões, indo e rindo no ritmo brincante, esperar o Rei Momo. E ele chegava todo paramentado, calças bufantes de cetim vermelho, túnica dourada de mangas também bufantes e gola de filó enfeitada com guizos. Peruca, rosto empoado, coroa de areia prateada, a purpurina da época, e cetro encimado por balões coloridos. Esse rei fanfarrão era meu pai, mas nem eu nem meus irmãos tínhamos acesso a ele, porque ele era da multidão dançante em torno dele.
A partir dos sete anos, frequentei um dos bailes da cidade. Por conta da rivalidade político-partidária separando as famílias, os partidos organizavam cada um o seu baile. Quando as tensões não eram tão fortes, a rígida divisão não se sustentava. Mas houve Carnaval em que não pude seguir meus amigos por conta de brigas eleitorais. Como eu não aceitava essa divisão estúpida, logo tratei de romper com tal esquema, tornando-me mal visto por um dos lados ou pelos dois, já que eu instaurava um ruído ao me relacionar com meninos e meninas dos dois partidos. Às vezes, tive que controlar a minha rebeldia e aceitar a imposição familiar, fato que não impedia a minha alegria, finda apenas ao receber as cinzas na quarta-feira e ao ver meu pai sem a sua fantasia e assumido ar de seriedade.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Registro 236: Resenha

  • O semestre letivo começou e perdi o pé. São tantas coisas para providenciar que deixei de lado os registros em Cenadiária, embora tenha lançado uma seção denominada Depoimentos. Aguardo resposta dos convites que fiz aos artistas para que possa alimentar a divisão com novos depoimentos.
  • Como não recebo comentários no blog, imagino que são poucos os leitores. Ou os Registros não despertam interesse ou... Não sei. Isso não impede que expresse. Seguimos em frente. Divirto-me. Gostaria de escrever mais, mas tenho compromissos urgentes: dar conta da publicação de Transas na Cena em Transe, Teatro e Contracultura na Bahia e de Um Grilo no Pedaço, livro para o leitor jovem. A editoração está na fase final e quem cuida do primeiro é a Edufba. O outro está sob a responsabilidade das Paulinas. Ah, e terminar o livro, ainda sem título, que venho escrevendo, preparar aulas, cuidar da casa, das leituras, das caminhadas em meio à praça de guerra em processo de montagem na orla, da ida ao dentista, etc. e tal. Ufa! Mas escrever é compulsão e termino sempre encontrando um tempo para deixar registrado as ruminações.
  • Embora os críticos tenham dado três estrelas para Revolutonary Road, o filme de Sam Mendes, cujo título no Brasil - Foi Apenas Um Sonho - reduz o que há de significados no título em inglês, gostei muito, principalmente pela atuação deslumbrante dos protagonistas e coadjuvantes. Pode parecer exagero, mas para mim, as interpretações fazem lembrar aquela geração de intérpretes formados pelo "Método", a versão americanizada da proposta stanislavskiana de preparação do ator. Kate Winslet e Leonardo de Caprio dominam os personagens. Ela mais sutil, ele mais evidente, mas não menos interiorizado. Tanto um quanto outro constroem seus personagens a partir de dentro e vão revelando sentimentos que afloram no decorrer da ação, conduzida com segurança habilidade e sensibilidade pelo diretor. Dele, gostei de Beleza Americana e Estrada da Perdição. Não vi o filme sobre a guerra do Iraque. Dou **** para Revolutionary Road.
  • Completo a postagem feita ontem. Mais um filme inquietante, bem realizado, sem nenhum viés escapista e os críticos... Ah, os críticos e suas escolhas. Carimbaram três estrelas para O Leitor e deram quatro para O Curioso Caso de Benjamin Button outra realização de peso, mas que não supera nem Revolutionary Road nem O Leitor, mas está acima de A Troca, que não é um filme desprezível, como querem nos fazer crer as resenhas sobre ele. Stephen Daldry conduz com segurança um filme em que os personagens (Michel Berg) carregam sua culpa, escondem segredo (Hanna Schmitz) e se debatem diante de uma situação que não diz respeito somente a eles, mas a uma nação, no caso a Alemanha. A memória tece o filme, visto que é por ela que Michael adulto (o ator Ralph Fiennes) relembra o amor juvenil por uma mulher mais velha. Ainda jovem, quando estudante de Direito, ele se depara com seu julgamento de Hanna, acusada de crimes contra os judeus durante a barbárie hitlerista, que alguns tentam de todas as formas negar. Vejam o caso do bispo recetemente reabilitado por Bento XVI. Continuo mais tarde....

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Registro 235: Depoimento I

O jornal O Estado de S. Paulo em seu Caderno 2 - Cultura - sempre aos domingos - apresenta um espaço denominado Antologia Pessoal, no qual profissionais das artes dão o seu depoimento sobre assuntos de sua área. As perguntas não variam, são sempre as mesmas. Ao apropriar-me da idéia, acrescentei uma pergunta e reformulei algumas; basicamente são as mesmas do jornal.

Assim, convido artistas baianos ou residentes em Salvador para deixar o seu depoimento no blog Cenadiária. Cada participante indicará um artista para que se forme uma rede de registros e opiniões. Semanalmente, a Cenadiária vai trazer uma personalidade do teatro baiano para o deleito do leitor. Divirta-se

INAUGURANDO A SEÇÃO,

CELSO JÚNIOR

Nasci há 40 anos uma cidade fria, feia e longe, no interior do Rio Grande do Sul. De lá, peregrinei com meus pais pelo Brasil, até chegar à Bahia, no carnaval de 1980. Em Salvador, conheci muita coisa, estudei arquitetura e teatro. Sou ator e diretor de espetáculos. Aos poucos virei professor.

1 – Que atores ou atrizes cujo trabalho em teatro você acompanha?
Nunca perco uma oportunidade de assistir Andréa Beltrão em cena. É sempre um alento. Aqui em Salvador, tá complicado, não tem mais teatro direito... Mas quando uma peça traz Marcelo Prado, eu vou assistir sempre. Me interessa saber o que ele tem a dizer, e como.

2 – Que atores ou atrizes de cinema compõem a sua galeria de favoritos?
Edward Norton, Kevin Spacey, Fanny Ardant, Kate Winslet. São muitos.

3 – Qual diretor de teatro cujo trabalho faz você retornar ao teatro?
Ewald Hackler, na Bahia. Gerald Thomas, no Brasil.

4 – Dê exemplo de um criador teatral muito bom, mas injustiçado.
Não sei responder a esta pergunta. Acho que a atriz Yumara Rodrigues não teve o destaque que o talento dela merecia. Mas tem um problema de ego ali. Não sei.

5 – Cite uma criação teatral surpreendente e pela qual você não dava nada.
Ano passado eu fui assistir a uma peça em São Paulo, me fiando apenas no título, que eu tinha achado bonito e poético: “O céu 5 minutos antes da tempestade”. No fim das contas, era um espetáculo realmente surpreendente. Uma das atrizes, inclusive, está indicada ao prêmio Shell.

6 – A cena baiano-brasileira tem alguns momentos teatrais antológicos. Cite algumas que marcaram sua vida.
No início dos anos 80, quando eu era adolescente e comecei a assistir as peças da Escola de Teatro, houve um momento antológico, numa mesma temporada, eu assisti “Em alto mar”, “A noite das tríbades”, “A caverna” e “Dias felizes”. Essa experiência modificou minha visão de mundo. Naquele momento, eu percebi que o teatro poderia ser um veículo para as coisas que eu pensava. Foi uma experiência ao mesmo tempo devastadora e epifânica. Destruiu muito do que eu acreditava e construiu novas coisas.

7 – Que encenação lhe fez mal, de tão perturbadora?
“O livro de Jó”, de Antônio Araujo. Passei mal, chorei, sofri junto. Só um tempo depois, é que eu percebi que havia sido tragado por aquela manipulação emocional. É um espetáculo quase pornográfico, no sentido em que não permite ao espectador nenhum hiato de subjetividade. Tudo está explícito o tempo todo. Mas, naquele momento, eu caí feito um patinho.

8 – Que espetáculo teatral mais o fez pensar?
“Entropia”, de Rodrigo Nogueira e direção de Marcelo Mello, que eu assisti no Rio. Perdi a noite, pensando sobre o espetáculo, depois de assistir. Saí do teatro com uma sensação de alívio: “Nossa, o teatro carioca não morreu!”

9 – Comédia é um gênero de segunda?
Eu comecei em teatro na Cia. Baiana de Patifaria, que fez um gênero muito especial de comédia, no final dos anos 80 e redefiniu a história do teatro em Salvador. A comédia é um gênero de primeira necessidade. Tanto fazer quanto assistir. Sem hierarquias. Tudo tem seu lugar.

10 – Cite uma peça difícil, mas significativa.
“Fim de partida”, de Samuel Beckett. Todas as vezes que eu li – devo ter lido umas quatro vezes, integralmente – foi uma leitura difícil. Mas é muito boa, apesar de tudo.

11 – Cite uma encenação que imagina ter sido memorável e você não viu.
“A vida de Eduardo II”, de Christopher Marlowe, com direção de Harildo Déda. Não consigo entender por que eu não assisti a esta montagem, nos anos 80. Eu já era frequentador dos espetáculos da Escola de Teatro, não sei por que não fui. Pelas fotos e pelo que as pessoas dizem, foi uma montagem monumental.

12 – Uma encenação difícil, mas inesquecível.
“Viva o povo brasileiro”, baseado na obra de João Ubaldo, sob direção de Wagner Salazar. O diretor veio a Salvador montar essa adaptação. Ele estava num momento muito especial da vida dele (ele tinha AIDS e morreu pouco depois da estréia) e conseguiu tingir a peça com esse momento dele. Foi um soco no estômago. Sem aviso, sem dó, na covardia. Saí do teatro devastado por aquilo tudo.

13 – Que texto(s) escrito(s) nos últimos dez anos merecia um lugar na história do teatro brasileiro?
“Nada será como antes”, de Claudio Simões, escrito há exatos 10 anos.
“Entropia”, de Rodrigo Nogueira, escrito já no século 21.

14 – Qual o texto dramático clássico brasileiro, de qualquer tempo, você recomendaria encenações constantes?
“O beijo no asfalto”, de Nelson Rodrigues. Essa peça deveria ser reencenada a cada – sei lá – 10 anos. Sempre encontro ali, cada vez que releio, novos caminhos a serem trilhados, novas possibilidades. É isso que faz de um clássico um clássico, não?

15 – Cite um(a) autor(a) sempre ausente dos cânones que merece seu aplauso?
Acho (e tenho esperanças) que Harvey Fierstein ainda será descoberto como um grande autor de peças. Atualmente, ele é visto apenas como um autor de comédias gays. Mas a visão de mundo dele – presente em suas peças – é de uma beleza e de uma poesia imensas.

18 – Que montagem (ou ator, autor, diretor, cenógrafo, figurinista, iluminador) festejado pela crítica você detestou?
Gabriel Vilella. Nunca gostei muito das peças dele. E ele é incensado, festejado, premiado, endeusado. Acho o trabalho dele pretensioso, maquiado e sem tridimensionalidade.

19 – E que montagem (ou ator, diretor, autor) demolida por críticos você gostou?
“Cartas abertas”, de Marcio Meirelles, uma pequena obra-prima delicada que foi – mais do que demolida – ignorada pela crítica, pelas premiações. Só não foi ignorada pelo público.

20 – Qual peça e personagem gostaria de fazer? Você pode citar três.
Gostaria de fazer um dos personagens de “Esperando Godot”, de Beckett, qualquer um.
Gostaria de interpretar Vânia ou Astrov, de “Tio Vânia”, de Tchékhov.
Gostaria de interpretar Henrique de Bolingbroke, da peça “Ricardo II”, de Shakespeare.

21 – Que virtude você mais preza no teatro de qualidade?
Síntese e clareza. “Menos é mais.”

22 – O que mais incomoda você no mau teatro?
O excesso de signos desperdiçados e dispersos. O tempo perdido ali.