sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Registro 336: Balanço 2010

2011 é de Oxum

Fui aprovado no concurso para professor da Escola de Teatro da UFBA em 3 de fevereiro e tomei posse no dia 21 de julho.

Em junho, encerramos as atividade do Curso de Artes Cênicas da Faculdade Social. Aproveito para agradecer aos colegas que estiveram desde o começo e os que permaneceram até o final. Nós acreditamos que seria possível e não desistimos. Desistiram por nós. Uma pena... Fizemos coisas legais e formamos alguns atores e professores de teatro. Todos os professores que passaram pelo curso prestaram concurso nas Universidades Federais e foram aprovados.

Recebi a notícia que meu primeiro livro para criança, Um muro no meio do caminho?? será reeditado pela Saraiva/Atual. Escrevi dois trabalhos que aguardam editores

Fiquei dez dias internado com dengue hemorrágica. Como é bom ter amigo e amigos. Todos solidários, prestativos, interessados. Não desejo para ninguém o tal mosquito e sua picada.

Não deu para ver a programação do FIAC, mas eu vi A Cela, Partiste, SiricoticoBenção, Torre de Babel, A Gente Canta Padilha, Dias de Folia, Monstro, Théâtre des Vampires (surpreendente, instigante, corajoso, principalmente para os atores e lógico para nós). Pouca coisa, mas dá pra perceber como anda a cena baiana. Faltou Sebastião, uma falha,  As Velhas e Pólvora e Poesia.

Os filmes que eu vi: Vincere de Marco Bellocchio (deslumbrante exercício cinematográfico), Diz Croquettes, Uma Noite em 67, As Melhores Coisas do Mundo, O Pequeno Nicolau, O Segredo dos Seus Olhos, Cabo do MedoMoscou, A Fita Branca, InvictusA Bela Junie . Vi muitos filmes, muitos que agora não dou conta de lembrar. Foram tantos. Sou viciado em cinema. Detestei A Origem.

Assis Valente (Coleção Folha - Raízes da MPB) tocou bastante no meu aparelho de som. Ainda não aderi ao MP3, mas fui obrigado a aderir ao celular. Ando agora com meu "Celulari" no bolso. Que praga! Ouvi bastante Michael Bublé (Crazy love e Call me irresponsible), Peter Gabriel (Stratch my back), Bryan Ferry (Olympia) e muitos dos meu velhos e estimados cd's, companheiros de todas as horas. Nelson Freire tocando Chopin (The nocturnes) foi uma constante, assim como Bach. Meus ouvidos não cansam de ouvir a Ária na Corda Sol da Suíte Número 3.

Os livros, Ah, os livros. Dei-me de presente tantos e não dei conta de ler todos. Já disse que compro livro como compro comida. Mas não posso deixar de lembrar de todos os Philip Roth, os novos e os antigos que eu não conhecia. Vão-se os dias e eu fico, as memórias de Edson Nery da Fonseca procurado desde que soube de seu lançamento e só conseguido depois que a Livraria Cultura se instalou naquela lonjura. Uma pena. O teatro e eu, de Sérgio Brito foi lido de um só fôlego. Depoimento corajoso do ator. Ganhei de Celso Nunes, que reencontrei na morando em Salvador, o seu livro escrito por Eliana Rocha, Celso Nunes sem amarras, coleção Aplauso. Da mesma coleção, Emílio di Biasi,  o tempo e a vida de um aprendiz. Foi, é, gratificante saber das histórias dos encenadores. Fui dirigido pelos dois e convivi mais próximo a Di Biasi, agora na Bahia, vou convivendo com Celso, a quem convidei para uma conversa na Escola de Teatro. O encontro foi realizado e agradou a quem esteve presente.

Lei O outono da idade média de Johan Huizinga, O poder da arte de Simon Schama e A Tragédia shakespeariana de A.C. Bradley. Intercalo a leitura pra ver se dou conta da pilha que se levanta na mesa de cabeceira. De Antonio Tabucchi, li O tempo envelhece depressa. Ganhei muitos livros presenteados por Fanny Abramovich, o último e ainda não lido é de Virgínia Woolf, O quarto de Jacob. A poesia de Cleise Mendes em O cruel aprendiz foi motivo de um texto no blog Cenadiária.

Escrevi artigos, alguns publicados. Um recusado. A recusa é parte da vida acadêmica. O problema é assumi-la.

O meu primeiro semestre na Escola de Teatro, eu vou esquecendo depois de retirar dele muitas lições. Não foi fácil. Um projeto, no qual investi energia e vi possibilidades para os atores, foi abortado. Se não consegui levar Carícia de Sergi Belbel para a cena, escrevi um artigo sobre a peça em fase de revisão. Por outro lado, dei aulas de História do Teatro para uma pequena turma do Bacharelado Interdisciplinar e avalio como superpositiva a convivência e o aprendizado dos estudantes.

Ah, dei conta de gratificante tarefa: escrevi Harildo Déda, nas dobras do tempo. O livro aguarda publicação. Os nossos encontros  foram momentos partilhados com emoção e alegria. Viagem no tempo, dele e minha.

Cultivei os poucos amigos, me aproximei de muitos companheiros, conheci pessoas, convivi com familiares. Mas continuo um solitário. Entreguei aos deuses os desafetos.

Fui visitado por Cid Pimentel, Fanny Abramovich, Tony Chou e Valéria, Luís e filhos, só faltou o meu afilhado Arthur. Gente que veio de longe

Acompanhei com assiduidade o ciclo de rituais no Terreiro do Gantois. Um descoberta, da mesma forma como foi tomar o chá no Centro Espiritual Estrela de Salomão, que é uma outra história, já que conhecia a bebida noutro lugar (São Paulo) e de um outro jeito.

Andei muito pela Cidade do Salvador e constatei o seu abandono. Abandono mesmo! Em agosto, fez 11 anos que retornei e fixei residência por aqui. Eu nunca vi a cidade tão suja, descuidada, entregue a incompetência dos atuais administradores e à nossa secular maleducação

Pra encerrar o balanço meio desbalançado - pois como dar conta dos trabalhos e dos dias, se a memória é seletiva - embora eu ache que não, faço duas citações: a primeira é de Simon Schama (O poder da arte, 2010, p. 10) e a segunda é de Mário Quintana, sem referência.

A grande arte tem péssimos modos. A silenciosa reverência da galeria [do teatro] pode levar você a acreditar, enganosamente, que as obras-primas são delicadas, acalmam, encantam, distraem - mas na verdade elas são truculentas. Impiedosas e astutas, as maiores pinturas [peças/encenações] lhe aplicam uma chave de cabeça, acabam com sua compostura e, ato contínuo, põem-se a reorganizar seu senso da realidade.

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

Que o ano novo venha novinho em folha, para que possamos viver a beleza da vida no que ela tem de esplendor e graça...