quarta-feira, 17 de abril de 2013

Registro 427: Aplausos e lágrimas para Cleyde Yáconis



CLEYDE YÁCONIS FOI MESTRA, NORTE E EXEMPLO


Marco Antônio Pâmio
Ator e diretor

"Foi para o céu a nossa Cleyde. Ela foi grande! Tristeza e uma saudade que não vai passar." Assim diz o e-mail que Naum Alves de Souza, diretor de "Longa Jornada de Um Dia Noite Adentro", acaba de me enviar.
Foi na montagem de 2002 dirigida por ele que a conheci e tive a honra de viver seu filho em cena. A caminho do Rio de Janeiro, para o primeiro dia de ensaios, o estômago me revirava, pois em pouco tempo estaria diante do "mito Cleyde Yáconis", da "irmã de Cacilda", da "grande dama do teatro nacional".
E deparei com uma das pessoas mais simples, íntegras e autênticas que já conheci na vida.
        Cleyde era de uma retidão e de uma coerência admiráveis.
Avessa ao glamour costumeiramente associado à profissão e à cultura de celebridade, Cleyde era obcecada única e exclusivamente por seu ofício. Orgulhosa de seu repertório, construído ao longo de décadas de trabalhos memoráveis, fazia questão de mantê-lo irretocável e ilibado.
A cada noite de apresentação, seu nervosismo antes de entrar em cena era comovente, tamanha a responsabilidade e a importância que dava ao ato de estar no palco.
A boca secava, os lábios tremiam e, muitas vezes, após uma expiração profunda e agoniada, desabafava: "Por que escolhi fazer isso da minha vida, meu Deus?".
Do alto de seus quase 80 anos na época, tinha a adrenalina de uma estreante. Compreendia a função do ofício do ator com lucidez, tenacidade, obstinação e verticalidade cada vez mais raras.
     Estudava dia e noite seu texto, preocupava-se com cada detalhe da personagem, não deixava um instante em cena sem ser preenchido com verdade e emoção genuínas, nem uma única sílaba sem ser cristalinamente compreendida pelo público.
Sua Mary Tyrone era tão genial que muitas vezes eu me pegava em cena assistindo a ela, admirando-a.
E, terminado o espetáculo, aquele "monstro sagrado" do nosso teatro saía dirigindo seu carro rodovia Anhanguera adentro, rumo a sua chácara em Jordanésia. Simples assim. Sem pompa, sem glamour, sem vaidade. Lá, finda a extenuante jornada física e emocional com o suor de seu rosto e a exposição de sua alma, reencontrava a natureza.
Naum tem razão: a saudade não vai passar. Cleyde foi mestra, foi norte, foi exemplo para quem pisa no palco.
Foi, e há de continuar sendo, referência indiscutível numa profissão cada vez mais banalizada pela sede de sucesso instantâneo e do consumo imediato.
Que ela esteja agora sendo recebida por todos os deuses, já ao lado de tantos que lhe foram tão queridos. E com a certeza plena de que nunca a esqueceremos.

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O texto de Pâmio é admirável por ser ele uma ator e diretor que não pertence à geração da atriz e grande dama do teatro brasileiro Cleyde Yáconis. A percepção que ele tem desta grande intérprete é notável e serve como exemplo para os atores e atrizes em início de carreira. Serve porque é uma lição de como aprender vendo uma atriz experiente lidar com seu ofício. Está experiência vivida ao longo da vida, desde que de costureira do Teatro Brasileiro de Comédia passou para o palco e mostrou suas qualidades de atriz. 

Vi Yáconis somente uma vez, sob a direção do meu amigo Emílio Di Biasi. Ela era um furação em cena, uma explosão de técnica e emoção o que fazia com que eu não desgrudasse os olhos de sua figura em cena. Os crítico registraram intensas interpretações de Cleyde Yáconis, entre elas a Geni de Toda Nudez Será Castigada e a dilacerante Medéia, entre outros trabalhos. 

Vivendo reclusa, atriz não se recusou estar no palco e na televisão e trabalhou até não poder mais. Assim são as grandes intérpretes. Vivem para o teatro e deixam marcas na cena. Estas marcas não serão esquecidas enquanto houver uma único espectador que tenha visto a atriz representar. 

PS: Vi Marco Antônio Pâmio estrear como Romeu sob a direção de Antunes Filho em Romeu e Julieta. Ele fazia par com Giulia Gam. Como era lindos e intensos na paixão.

sábado, 13 de abril de 2013

Registro 426: Alexandre Porto Vidal escreveu.


VOCÊ VIU UM HOMOSSEXUAL POR AÍ?[1]

Alexandre Vidal Porto

           Ao longo dos últimos 40 anos, no mundo ocidental, a luta pela igualdade jurídica dos homossexuais obteve conquistas notáveis. De tema proscrito, passou à vanguarda do debate sobre direitos humanos. Cuba, que nos anos 60 mantinha campos de "reeducação" para gays, promove agora políticas de inclusão.
           Nesta última semana, foi a vez do Uruguai, que aprovou o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Ontem, a França também deu um passo importante nessa direção com a aprovação pelo Senado de um projeto que deve entrar em vigor até o meio do ano.
           No caso do Brasil houve avanços, mas o que se oferece aos gays em termos de proteção e respeito social é pouco em comparação ao que fazem países culturalmente próximos, como Argentina ou Portugal.
           Parte do Congresso brasileiro busca minar a consolidação de direitos das minorias sexuais com argumentos condenatórios, toscos e obscurantistas, de cunho radical religioso.
           Ajuda a compor o retrato do homossexual no imaginário popular a repetição incansável de personagens gays estereotipados em programas de televisão. No final, a imagem que fica é que os gays ou são patéticos, ou amaldiçoados.
           O fato de que um discurso desqualificador da homossexualidade possa ser explorado politicamente ou como fonte de humor é lamentável. Mas faz parte de nossas mazelas. Não é por acidente que o Brasil ocupa o 84º lugar no ranking de desenvolvimento humano da ONU, com índice inferior à média da América Latina e do Caribe.
           Toda superação de preconceitos exige ampliação de conhecimentos. No caso específico, os homossexuais brasileiros devem assumir a liderança desse processo educativo. A exemplo do que ocorreu em outros países, cabe a eles mostrar à sociedade quem realmente são.
           O ato mais político que um homossexual pode realizar é assumir-se como tal. Engajar-se pessoalmente na luta pela mudança de percepção. Dar cara, nome e profissão à homossexualidade.
           Chamar a atenção para o fato de que o gay ridicularizado pelo apresentador de televisão ou atacado na rua pode ser o filho que você ama, o irmão que você admira, o seu melhor amigo de infância ou o médico que salvou a sua vida.
           Cada gay que sai do armário traz amigos e parentes para a sua luta. O apoio público de pessoas influentes e admiradas, seja um empresário de peso, um político respeitado ou um artista de renome, dá segurança e respaldo a um ato radical, mas necessário, de afirmação pessoal, que contribui para uma sociedade mais democrática e inclusiva.
           Foi essa a lição que Daniela Mercury deu ao Brasil na semana passada. Que não é preciso ser triste, irresponsável e fracassado para ser gay, que não há nada de feio ou indigno na expressão de seu amor.
           E que a despeito do que diga o pastor ou o programa humorístico, a homossexualidade não é ridícula e nada tem a ver com maldição.
           Daniela fez a sua parte. Deixou claro que o Brasil já gosta de homossexuais. Só precisa saber quem eles são. Cabe a nós apresentá-los.

ALEXANDRE VIDAL PORTO é escritor e diplomata. 



[1] Folha de S. Paulo, 13 de abril 2013

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Registro 425: Brasil, meu Brasil brasileiro


A COMISSÃO DOS DIREITOS HUMANOS 
VIROU UMA ESCULHAMBAÇÃO. 
QUE TRISTEZA!
MAS NÃO POR CAUSA DOS
PROTESTOS,
MAS PELA INDECÊNCIA

 QUE É SEU PRESIDENTE