quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Registro 230: Palestina - PAZ - Israel

Como ficar indiferente ao conflito israelense-palestino que irrompeu no alvorecer de 2009, desencadeando ataques mortíferos que resultam na morte de tantos civis? Como ficar passivo diante da morte de tantas crianças? Como se comportar diante de tantas informações e tomar uma posição?

Moralmente, humanitariamente, coloco-me contra a violência da guerra, principalmente quando ela varre da terra vidas humanas, muitas delas contrárias ao conflito. Penso que em meio aos israelenses e entre os palestinos muitos se colocam frontalmente contra o ódio que vem sendo cultivado ao longo dos anos.

Tanto os palestinos quanto os judeus acreditam que a Terra Prometida lhes pertence. Essa terra se estende do Mediterrâneo até o rio Jordão. Terra que povoa o real e o imaginário de todos nós. Nessa estreita faixa de terra, vivem cerca de cinco milhões de judeus e cerca de quatro milhões e meio de árabes, povos tão semelhantes e tão diversos, mas muito próximos. Para os judeus, essa terra tem o nome de Israel, para os árabes é a Palestina. Ambos os povos têm razões para acreditar que a terra lhes pertence.

Vejamos as razões dos judeus: historicamente a região foi um reino judeu; após a revolta contra a dominação romana, de 70 a 135 D.C., a Judéia recebeu o nome de Palestina, denominação dada pelos romanos. Por essa época, os judeus se dispersaram, mas muitos permaneceram vivendo na região.

A cada ano, desde que se destruiu do templo de Jerusalém, os judeus oram para retornar a essa terra. Ao se encerra os festejos da Páscoa, festa que rememora a saída do Egito, o judeus proferem a seguinte frase: “No próximo ano em Jerusalém”. Nas três orações diárias a comunidade judaica, pelo menos os religiosos, volta-se para a direção onde está a cidade de Jerusalém que é sua cidade mais sagrada, como é sagrada também para os árabes, ainda que Meca seja o lugar de peregrinação mais importante. Jerusalém é também uma cidade sagrada para os cristãos do mundo inteiro, embora Roma exerça um papel de suma importância.

Na história do povo judeu registram-se inúmeros momentos de perseguição. Após séculos de trágicas Cruzadas que também causaram danos aos árabes, depois dos progroms e por fim depois da Shoah, a maior parte dos judeus, mas nem todos, acreditam que apenas estarão a salvo de perseguições se existir um Estado de Israel independente, fato que se concretizou em 1948.

Vejamos as razões para que os árabes acreditem que essa terra lhe pertence: os povos árabes que habitam essa terra estão nela desde muitos séculos e suas esperanças aumentaram significativamente após a conquista mulçumana no século VII. A vida e as tradições dos que habitam a região revelam uma forte ligação com os lugares onde seus ancestrais viveram de geração a geração. A cidade de Jerusalém é um centro cultural, social e religioso para os árabes.

Como fazer para que esses povos vivam em paz e construam sua história abolindo as agressões bilaterais? Muitas são as repostas, os argumentos, as perspectivas. Caso sigamos os argumentos de um povo ou de outro podemos fazer uma escolha irrelevante, visto que ambos os povos têm direitos a essa terra. Esses direitos são amplamente reconhecidos pela comunidade das nações. Além disso, devemos considerar que nenhum dos dois povos simplesmente desaparecerá, hoje, amanhã ou depois. Eles estão aí. São muitos, são importantes, são povos com uma história, uma identidade. E a pergunta surge: o que fazer a respeito.

A saída pode estar em quatro soluções possíveis para acabar com o conflito.

1 – Os árabes ficam com toda a terra
2 – Os judeus ficam com toda a terra
A solução 1 e 2 envolveria a eliminação do outro lado pela força. O uso da força extrema geraria ações de deportação em massa e o genocídio. Para isso, árabes e judeus lutariam entre si até a destruição mútua.

3 – Um Estado binacional para judeus e árabes
A solução de um estado binacional pode soar atrativa teoricamente, mas é impossível colocá-la em prática tendo em vista o estado de tensão permanente e os ódios entre os povos. Além disso, esse tipo de solução contraria o desejo de autonomia e autodeterminação de cada um dos povos.

4 – Dois Estados para os dois povos.
A única solução viável de paz duradoura seria através da existência de dois estados independentes, vivendo lado-a-lado, com fronteiras seguras e mutuamente reconhecidas. Essa ideia foi a que uniu os dirigentes dos palestinos e dos judeus em Oslo. Mas o Processo de Oslo falhou, falhou não por ter sido baseado em premissas erradas. Elas estavam corretas na defesa de dois estados para os dois povos, única maneira de se chegar à paz na região O processo fracassou porque cada lado costuma culpar o outro.

Para os palestinos, os argumentos vão nessa direção: a visita de Sharon ao monte do templo, o assentamento de Israel na Cisjordânia e Gaza e os bloqueios israelenses e as punições coletivas. Para os israelenses os argumentos são: recusa de Arafat às propostas de Barak em Camp David, os atentados terroristas e o incitamento dos palestinos à violência e ódio pela educação. Diante desses argumentos podemos julgar quais atos consideramos mais imorais e injustos, ou quem tem razão. Cada lado faz um contagem diferente de sangue e culpas. Cada lado costuma escolher diferentes fatos divulgar ou omitir. É importante levar em conta que boa parte de ambos os lados perdeu a confiança e a crença no comportamento do outro, com a solução de dois estados frustrados com o processo de Oslo.

Para que os povos, palestinos e israelenses, encontrem a medida justa é necessário combater a intolerância, já que existe nos dois lados pessoas que se recusam aceitar os direitos humanos e nacionais do outro. Portanto, esses grupos precisam ser combatidos no interior de sua cultura, cada um arcando com essa responsabilidade. Combater esses grupos é uma solução necessária. Palestinos e israelenses devem dizer não aos seus membros intolerantes e às suas formas violentas. É preciso acabar com o medo do outro. Enquanto houver medo cultivado a insegurança dissemina-se e os dois lados partem para o confronto.

Dei aulas em uma instituição judaica, o Ginásio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem. Ali, conviviam brasileiros. Em meio a esse ambiente laico e progressista longe do dogmatismo e afastado do sionismo,
aprendi muito e reafirmei a minha vontade de permanecer do lado daqueles que acreditam nas possibilidades de uma convivência pacífica entre pessoas e culturas diferentes. Tal afirmação não aceita a totalidade dos comportaemntos individuais e cuturais. As teses do multiculturalismo precisam ser olhadas cuidadosamente para que se aponte as vias deformantes e os descalrbos perpretados em nome de uma totalidade que não deve ser aceita plenamente.

Trabalhei com judeus e árabes em diversos elencos e partilhei com eles convivência pacífica, civilizadora, fraterna, que não impedia a divergência.

Hoje, quando vemos grassar entre nós o fundamentalismo político, religioso e étnico, eu me lembro dos meus alunos, dos meus colegas professores, dos meus companheiros de teatro, dos meus amigos árabes e judeus e tenho esperança.
Faz muitos anos, li um artigo de Umberto Eco onde ele dizia que a tolerância tinha um limite. E que era preciso atentar para não abaixarmos a cabeça diante das ações desumanas, com receio do nos tornarmos intolerantes. Faço a defesa daqueles que cobatem a intolerância por saber os caminhos que eles trilham. Esse caminho nega o ódio e o medo.

Muitas das ideias contidas nesse texto foram retiradas de um documento eletrônico, apócrifo, que recebi. Como não tenho conhecimento da autoria, reservo- me o direito de avisar que nem tudo que está escrito aqui é meu. Mas elas se tornam minhas ideias porque nelas acredito.