
Filme da redenção
Filme perturbador
Tragédia grega moderna
Filme tenso em sua carnalidade
Filme tristíssimo
Em meados dos anos 50, meu pai construiu o Cine Teatro Cliper em Ipirá- Bahia. Meus olhos de menino acompanharam cada etapa desse projeto. Eu passei a ser o filho do dono do cinema, mas isso não representava muito. O que eu gostava mesmo era de mergulhar no escurinho da sala com seus cheiros característicos. Gostava de ver o baleiroTiago, arrumar o cesto com as balas, drops, chicletes, confeitos, caramelos e bombons, ajudado por minha mãe. Gostava de receber de Pedro, o projecionista, os fotogramas que sobravam. Durante o dia, quando Margarida fazia a limpeza, era uma prazer subir ao palco com sua ribalta de luzes coloridas que se acendiam anunciando o início da sessão, quando a cortina de tecido transparente abria-se para revelar imagens, imagens, imagens. Torcia para meu pai abrir as latas com filmes e ver as fotografias dos próximos cartazes. As latas em caixas de couro eram entregues em minha casa. O cheiro de acetato penetrava no meu nariz e eu, viciado, perdia-me nos enredos aventurosos, dramáticos, cômicos.