sexta-feira, 13 de março de 2009

Registro 248: Um filme mal lançado

Mãe e avó, Juno (Catherine Deneuve), casada com um homem mais velho descobre que está com uma doença degenerativa e precisa de transplante de medula. Os filhos e um dos netos submetem-se aos testes para possíveis doação. A ação se passa em Paris antes e durante o Natal. Esse filme deslumbrantemente sensível, irônico, mordaz e direto, fala sobre afetos, ressentimentos e compreensão entre pais e filhos, entre irmãos. Nada que lembre a melosidade e o bom mocismo quando se trata da maioria dos filmes sobre a família. Exceções existem.

Presumo que o filme de Arnaud Desplechin foi visto por poucos. Logo saiu de cartaz, mesmo estando no circuito Sala de Arte em Salvador, um lugar onde se respira e se bebe do bom cinema. O título Um Conto de Natal pode ter afastado os desavisados. Lamentável.

Essa família que se reúne para as festas de fim de ano deve se enfrentar. E esse enfrentamento se dá através de pequenos gestos, das tensões provocadas pelo não resolvido. Entre os filhos, destaca-se aquele que é o "filho ruin", Henri (Mathieu Amalric). Ele vem a ser o doador. Ele, o rejeitado pela mãe e pela irmã, Elizabeth (Ane Consigny). O filme começa com cenas rememorativas da infância de cada filho e de suas relações com a morte de um irmão. Em seu blog Luiz Carlos Merten informa que o diretor inspirou-se no texto do filósofo norte-americano Ralph Waldo Emerson. No livro, o filósofo conta de que forma superou a tristeza e buscou um sentimento positivo para enterrar o filho.

Os personagens de Desplechin não escondem o que sentem. Não falam meias palavras. Dizem o que pensam e durante a festa, tempo do filme, eles se repelem e se atraem e nós entramos no jogo despido de pieguismo. Nenhuma sombra maniqueísta perpassa o filme. Diante da situação, os personagens devem tomar decisões e isso implica em ajustes, em encarar de frente as marcas do passado. Não se faz drama, mas o drama perpassa o filme. para nós, acostumados ao derramamentos, que gritamos, choramos e nos descabelamos diante das vicissitudes da vida, tanto as pequenas quanto as grandes, a relação entre os familiares diante dos problemas de cda um parece dura. Se olharmos por esse prisma deixamos de perceber as camadas de afeto entre eles.
O final é uma epifania, compreendida como a manifestação ou percepção da natureza ou do significado essencial de uma coisa.

Uma pena ter ficado ofuscado pela ressaca do carnaval, pelo lançamentos dos filmes indicados para o Oscar ou por uma programa inoportuna. Na sessão em que vi o filme, estavam na sala seis gatos pingados. Gatos privilegiados.


Ficha Técnica Título Original: Un Conte de Noël Gênero: Drama. Tempo de Duração: 150 minutos. Ano de Lançamento (França): 2008Site Oficial: http://www.bacfilms.com/site/conte/ Estúdio: Why Not Productions Distribuição: IFC Films / Imovision Direção: Arnaud Desplechin. Roteiro: Emmanuel Bourdieu e Arnaud Desplechin. Produção: Pascal Caucheteux. Música: Grégoire Hetzel. Fotografia: Eric Gautier. Desenho de Produção: Dan Bevan. Edição: Laurence Briaud
Elenco
Catherine Deneuve (Junon), Jean-Paul Roussillon (Abel), Anne Consigny (Elizabeth), Mathieu Amalric (Henri), Melvil Poupaud (Ivan), Hippolyte Girardot (Claude), Emmanuelle Devos (Faunia), Chiara Mastroianni (Sylvia), Laurent Capelluto (Simon), Emile Berling (Paul), Thomas Obled (Basile), Clément Obled (Baptiste), Françoise Bertin (Rosaimée), Samir Guesmi (Spatafora), Azize Kabouche (Dr. Zraïdi).