segunda-feira, 27 de abril de 2009

Registro 259: Depoimento V

O jornal O Estado de S. Paulo em seu Caderno 2 - Cultura - sempre aos domingos - apresenta um espaço denominado Antologia Pessoal, no qual profissionais das artes dão o seu depoimento sobre assuntos de sua área. As perguntas não variam, são sempre as mesmas. Ao apropriar-me da idéia, acrescentei uma pergunta e reformulei algumas; basicamente são as mesmas do jornal.Assim, convido artistas baianos ou residentes em Salvador para deixar o seu depoimento no blog Cenadiária. Cada participante indicará um artista para que se forme uma rede de registros e opiniões. Semanalmente, a Cenadiária vai trazer uma personalidade do teatro baiano para o deleito do leitor. Divirta-se.
Jacyan Castilho, atriz formada em Interpretação pela UniRio em 1986. Ms. em Teatro também pela UniRio em 2000, Dra. pela UFBa em 2008. Portanto, atriz e professora (da Escola de Teatro da UFBa). Bailarina formada pelo Curso Técnico Profissionalizante da Escola Angel Vianna, no RJ. Portanto, também bailarina. E diretora, coreógrafa, preparadora corporal, etc, em dúzias de trabalho, no RJ, RS, SP, BA.

1 – Que atores ou atrizes cujo trabalho em teatro você acompanha?
Os meus preferidos: Marco Nanini, Denise Stoklos. Porém, morando longe do eixo Rio/SP, tem estado mais difícil acompanhá-los. Aqui na Bahia eu sigo de perto o Fabio Vidal. E espero ainda acompanhar por muito tempo a Mariana Freire, jovem atriz muito, muito talentosa.

2 – Que atores ou atrizes de cinema compõem a sua galeria de favoritos?
Um cara das antigas, chamado Dick Bogart, de Morte em Veneza. Por incrível que pareça, adoro o Jim Carey. Atualmente, a Penélope Cruz. E gosto muito de uma galera jovem e nacional: Fernanda Torres, Débora Block, Andréa Beltrão, Matheus Nachtergale, Lázaro Ramos, Wagner Moura.

3 – Qual diretor de teatro cujo trabalho faz você retornar ao teatro?
Denise Stoklos. Me fez retornar, ou retomar, o teatro todas as vezes em que eu já o havia abandonado.

4 – Dê exemplo de um criador teatral muito bom, mas injustiçado.
Huuuummmm.... eu?

5 – Cite uma criação teatral surpreendente e pela qual você não dava nada.
Vau da Sarapalha, do Grupo Piolim, da Paraíba. Quando eu assisti, ainda não era cult, fui ver só por curiosidade. E era o máximo. E o Romeu e Julieta, do Galpão, que também ainda não era tudo isso. Os amigos recomendaram: “É fofo!”. Mas era muito mais que isso.

6 – A cena baiano-brasileira tem alguns momentos teatrais antológicos. Cite algumas que marcaram sua vida.
Infelizmente, moro aqui só há seis anos, portanto não acompanho há tanto tempo o cenário artístico baiano, para citar momentos marcantes.

7 – Que encenação lhe fez mal, de tão perturbadora?
Rapaz... nenhuma. Elas me fazem mal quando são ruins.
8 – Que espetáculo teatral mais o fez pensar?
Um fax para Cristóvão Colombo, da Denise Stoklos. Essa era perturbadora, mas só me fez bem.

9 – Comédia é um gênero de segunda?
De segunda a domingo. Se for de primeira, melhor ainda.

10 – Cite uma peça difícil, mas significativa.
Acho que as de Beckett. Algumas são tão difíceis que eu até hoje não entendo nada (risos). Mas são um marco, né.

11 – Cite uma encenação que imagina ter sido memorável e você não viu.
Hoje é dia de rock, do Teatro Ipanema, Rio. Eu não tenho idade pra ter visto.

12 – Uma encenação difícil, mas inesquecível.
Macunaíma, do Antunes. Inesquecível e deliciosa. Assisti quando comecei a me interessar por teatro, com uns quatorze, quinze anos. A gente se perguntava: como pode durar umas quatro horas e eu nem sentir?

13 – Que texto(s) escrito(s) nos últimos dez anos merecia um lugar na história do teatro brasileiro?
Xi... Não sei responder.

14 – Qual o texto dramático clássico brasileiro, de qualquer tempo, você recomendaria encenações constantes?
Os mesmos que são (exaustivamente) remontados: Nelson, Plínio, Suassuna... Mas acho que Machado de Assis ainda não foi “dramatizado” o suficiente.

15 – Cite um(a) autor(a) sempre ausente dos cânones que merece seu aplauso?
Silveira Sampaio.

18 – Que montagem (ou ator, autor, diretor, cenógrafo, figurinista, iluminador) festejado pela crítica você detestou?
Ah.... são tantos, que eu nem sei dizer. Acho que meu gosto pessoal deve ser de Marte, de tão diferente do gosto do senso comum que ele é. Bem, é incômodo apontar alguém, mas nunca entendi porque Moacyr Góes, do Rio, foi sempre tão festejado.

19 – E que montagem (ou ator, diretor, autor) demolida por críticos você gostou?
Críticos? Que críticos?

20 – Qual peça e personagem gostaria de fazer? Você pode escolher três.
Vale sonhar? Medeia, Mãe Coragem e as sobrettes, isto é, as empregadinhas engraçadas, do teatro de gabinete do início do séc. XX. Ah, quatro, vá: adoro a Shirley Valentine, da peça de mesmo nome.

21 – Que virtude você mais preza no teatro de qualidade?
Rigor. Inteligência e rigor.

22 – O que mais incomoda você no mau teatro?
Pode parecer elitista, mas eu gosto do teatro feito por quem entende, por quem gosta, por quem estuda e quem é talentoso. Então o que me incomoda é a sensação de que qualquer um, mas qualquer um mesmo, podia ter feito aquela porcaria.