segunda-feira, 12 de julho de 2010

Registro 315: Preste atenção

O texto reproduzido é do jornalista Fernando de Barros e Silva (Folha de S. Paulo, 12 de julho de 2010). É por essa e outras que eu não simpatizo com o PSDB. Quanto ao PT, seu gosto pelo poder e a simpatia por ditadores, me arrepia. No PV, nem pensar...


Pedágio na Cultura


SÃO PAULO - Começou mal, muito mal, a gestão de João Sayad à frente da TV Cultura de São Paulo.

Na quarta-feira da última semana, confeccionava-se, para o jornal noturno da emissora, uma reportagem sobre os pedágios paulistas, aos quais o próprio candidato tucano ao governo, Geraldo Alckmin, havia feito reparos. No início da noite, o diretor de jornalismo da TV Cultura, Gabriel Priolli, foi chamado à sala de Fernando Vieira de Mello, vice-presidente de conteúdo.

Ali ouviu a bronca: a TV não poderia se ocupar de assunto tão delicado sem o seu conhecimento prévio. Vieira de Mello ecoava um protesto que tinha origem em algum escaninho da burocracia tucana.

A reportagem não foi ao ar naquela noite. E Priolli foi afastado de suas funções na tarde de quinta-feira. Durou uma semana no cargo.

Consta que a reportagem sobre os pedágios foi exibida na noite de sexta, feriadão de 9 de julho. E alega-se que foi derrubada na antevéspera porque estava "mal feita". Ninguém deve ter visto o resultado final. Como quase ninguém teria visto se fosse exibida na quarta.

A verdade é que a Cultura é uma TV mais lida do que assistida. Os próprios conselheiros da Fundação Padre Anchieta acompanham a emissora pela imprensa.

A saída de Heródoto Barbeiro do "Roda Viva" nada tem a ver com a pergunta que ele fez no programa a José Serra uma semana antes -justamente sobre pedágios. A sua substituição por Marília Gabriela já estava acertada pela direção. Mas, ao enviar Priolli para a Sibéria, os tucanos conseguiram transformar uma mentira em algo verossímil.

O episódio escancara a ingerência política do tucanato na TV pública de São Paulo. Quando uma reportagem sobre pedágios vira questão de Estado, então é melhor fechar o departamento de jornalismo e exibir "Cocoricó", onde ao menos as crianças são levadas a sério.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Registro 314: Pataquadas baianas

Não sou chegado ao excessivo civismo, mas gosto de festas que movimentavam o cidadão e a cidade. Salvador está em festa, é 2 Julho, dia em que o sol brilha mais que no primeiro. Não é o caso, pois hoje amanheceu cinzento e chuvoso. Mas com chuva e vento o baiano vai para as ruas antigas pra ver e reverenciar o casal de Caboclos, símbolos nativistas da revolta dos brasileiros contra os portugueses que não aceitaram o Grito do Ipiranga. Aqui permanecendo sem arredar o pé do governo, tentavam manter sob seus domínios a rica região do Recôncavo e a capital com seu Porto na larga e bela Baía de Todos os Santos. 

A festa é centenária. Nela, os políticos de plantão usam o cortejo como vitrine. Quem acredita ainda em político e em partido, sai pra defender o seus credos! Essa é a parte mais desinteressante do desfile. O que gosto de ver e fotografar são as imagens que meus olhos não esquecem: as casas enfeitadas, as figuras históricas representadas por figurantes com suas roupas toscas, as bandas dos colégios, com suas balizas femininas tendo que ceder espaço para o rapazes, alguns não tão másculos, demonstrando suas evoluções ao longo do trajeto.  Quiseram proibir alguns rapazes de brindar o público com seus trejeitos. Uma pataquada baiana e homofóbica.

A segunda pataquada é a mudança do horário do cortejo por conta do jogo Brasil x Holanda. Tenho minhas dúvidas se essa é a melhor solução. O cortejo é centenário, anual e poderia seguir em meio ao jogo. Um onda de civismo.

A outra pataquada é a esdrúxula ideia do ocupante do Palácio de Ondina em dar o nome do estádio que surgirá das cinzas do conjunto esportivo da Fonte Nova, cujo estádio tem o nome de Otávio Mangabeira. Não esquecendo que havia também o ginásio coberto com o nome de Antônio Balbino, mais conhecido como Balbininho. Foi aí que vi os shows dos artistas da Jovem Guarda, vi Marta Vasconcelos ser eleita Miss Bahia e soube da solenidade de formatura de todos os cursos da Universidade Federal da Bahia, com estudantes protestando contra a ditadura.

No campo de futebol, eu assisti aos desfiles de abertura da Olimpíada Baiana da Primavera. Como aluno do Ginásio Edgard Santos desfilei certo ano. O tema mostrado pelo Ginásio era A Olimpíada na Grécia. E lá fui no pelotão dos atletas gregos, vestindo um ridículo saiote, sandália trançada nas pernas e peito nu. Na época, ninguém estranhava ver os estudantes baianos pelas ruas trajando roupas alusivas aos temas do desfile. Foi assim que cheguei ao estádio para encontrar colegas e professores na azáfama para fazer o Ginásio brilhar e ser classificado. Bela festa, com seu hino empolgante cujo verso ainda lembro "Canta a primavera em nossas vozes juvenis, circula a  primavera em nossa veias varonis...." No mesmo estádio, em um domingo de Bahia x Vitória, estive no campo para fazer algumas tomadas do filme Anjo Negro de José Umberto. Meu personagem, um juiz de futebol, marcava uma partida fictícia antes da verdadeira. O estádio lotado de torcedores... Ao me ver correndo e gesticulando, eles não vacilaram, deram-me uma vai monumental. Acho que nenhum ator jamais foi vaiado por tanta gente.

Eis que de repente,  vem o governador, que pouco governa, com a pataquada de querer nomear o novo estádio, uma obra discutível, de Lulão. Já não basta a mudança do nome do aeroporto? Mais uma aberração que temos de aguentar. E nada fazemos para deter tanto absurdo. A atitude do alcaide de plantão é oportunista, populista e explicitadamente puxa-saco.

Só me resta lembrar e dar viva a Cid Texeira, meu professor inesquecível.

É, os holandeses invadiram o Brasil!