segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Registro 416: Sempre é tempo de brincar






Os Brinquedos que Moram nos Sonhos, é o titulo da exposição de brinquedos populares que no momento ocupa as salas do andar térreo do Museu de Arte da Bahia. O acervo pertence ao fotógrafo carioca David Glat, coleção de cerca de 1.500 peças que se espalham brincantes a cativar crianças, naturalmente, e adultos que ainda guardam na memória os artefatos que povoaram a sua infância.

Para aqueles que se esqueceram dos brinquedos e das brincadeiras, a exposição facilitará o retorno ao universo das geringonças, carrinhos, bonecas, bichos e outros objetos criados por homens e mulheres neste Brasil imenso, povoado por artesões sensíveis e criativos. Estes artistas presentificam com suas criações a relação indissociável entre brinquedo e brincadeira, um princípio muitas vezes esquecido por muitos inventores de brinquedos.

Os expressivos brinquedos muito bem expostos, um dado importante a considerar, visto que o público de crianças podem observar muitos dos artefatos no mesmo nível dos seus olhos, ainda que outros brinquedos estejam expostos em níveis mais altos, o que não impede a apreciação. Há brinquedos de várias espécies. Alguns são estáticos e nem por isso menos interessante. Outros, além da beleza, movimentam-se fascinando quem se posta diante deles para admirá-los.

Para os desavisados, aqueles que só têm olhos para as novas tecnologias (nada contra), ficarão impactados com o envolvimento das crianças com os brinquedos populares que nos remetem a um tempo outro. No tempo de agora, com todos os artefatos industriais, meninos e meninas interagem de maneira viva, estabelecendo uma relação intensa. A beleza das formas, as cores, os materiais chamam a atenção. Os elementos fantásticos dialogando com objetos do real atraem independente da faixa etária. A variedade de personagens, alguns próximos do cotidiano, outros distantes, povoam as salas e os cenários montados pra ressaltar a estética dos brinquedos plenos de significados.

De maneira geral, os brinquedos são objetos de muitas reflexões, citarei alguns textos que me instigam, me fazem rir e pensar sobre o brinquedo. Walter Benjamin nos legou História cultural do brinquedo e Brinquedos e brincadeiras, ambos publicados no livro Magia e técnica, arte e política (1994). No livro O estranho mundo que se mostra às crianças (1983), Fanny Abramovich trata da produção cultural para as crianças e reserva espaço para falar sobre os brinquedos e as brincadeiras. Outros escritos existem, mas estes estão ao alcance da mão.

A ida ao Museu de Arte iluminou a minha tarde, me fez retornar ao tempo de criança, deixou-me emocionado. Por outro lado, me fez pensar sobre a potência existente nesta manifestação de homens e mulheres, muitas vezes ignorados, e que se afirmam no mundo criando beleza e enchendo-o de poesia. A exposição trouxe a lembrança de Mestre Molina, um criador de geringonças brincantes que recebeu o apoio da direção do Sesc em São Paulo. Mestre Molina  povoava o Sesc Fábrica da Pompéia com seus inventos. Lembrei-me também da coleção de brinquedos populares de Paulo Vasconcelos, pernambucano radicado em Sampa, que me emprestou brinquedos para a exposição que montei na Pompéia intitulada O reino de Lilliput. E como esquecer a exposição sobre brinquedos, concebida e montada por Lina Bo Bardi?

Finalizando este registro, informo que a exposição está organizada nos seguintes espaços: A Sala de Brinquedos, A Sala dos Sonhos, a Sala do Espetáculo, a Sala do Medo, A Sala das Reciclagens, A Sala do Desafio, A Sala das Representações e a das Instalações Multitemáticas. O acervo exposto foi recolhido por David Glat, desde os 20 anos em suas viagens pelo interior do Brasil. Aberta ao público em 09 de dezembro de 2012, a exposição permanecerá até abril de 2013, de terça à sexta, das 13h às 19h. Nos finais de semana das 14h às 19h. Não deixe de ir. Vá e brinque.