terça-feira, 5 de maio de 2009

Registro 263: Livro sobre teatro na Bahia

Lançamento
Transas da cena em transe: teatro e contracultura na Bahia
(Edufba, 2009, 400 p., R$ 30,00)
Raimundo Matos de Leão
Dia 06 de maio de 2009, quarta-feira, a partir das 18h30m, na Galeria do Livro
(Espaço Unibanco Glauber Rocha).

Transas na Cena Transe, Teatro e Contracultura na Bahia, uma publicação da Edufba é derivado da tese defendida no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas – UFBA, em 2007. O livro aborda questões relativas ao teatro em meio ao idearia contracultural, investindo sua argumentação contra a afirmação de que a produção teatral que se dá de 1968 a 1974 é destituída de criticidade. Propondo outro ponto de vista, o livro apresenta e analisa a produção teatral para afirmar que não houve um “vazio cultural” durante o período em que o governo civil-militar esteve no poder e utilizou a censura e a repressão para calar os artistas. Tomando como fonte de sua pesquisa os jornais da época, o depoimento dos envolvidos com a produção teatral em Salvador e fontes secundárias, o professor Raimundo Matos de Leão dá continuidade à pesquisa sobre a história do teatro na Bahia a partir dos meados dos anos 1950, tema do seu livro anterior Abertura Para Outra Cena, O Moderno Teatro na Bahia, lançado em 2006, uma publicação da Edufba em conjunto com a Fundação Gregório de Mattos. Nessa obra, o autor cobre o período anterior à criação da Escola de Teatro para afirmar que a vida teatral em Salvador sofreu um impulso modernizador a partir da existência da instituição universitária dirigida por Martim Gonçalves. Transas na Cena em Transe avança pela década de setenta, para mostrar um momento significativo do teatro na Bahia, tema de pesquisa a quem vem se dedicando o autor.

Transas na Cena em Transe concentra-se no período que vai de 1967 a 1974, historicamente reconhecido como o auge da contracultura, do desbunde, da festa, da militância guerrilheira. As ações culturais desse período, conceituadas como imbuídas de romantismo revolucionário, inscrevem0-se como reação ao crescente autoritarismo do regime civil-militar. O teatro obriga-se a encontrar formas para manter-se vivo e nos palco de Salvador surgem encenações que traduzem de modo explícito as transformações por que passa a cena mundial. No livro, o autor apresenta os espetáculos, Uma Obra do Governo, Stopem, Stopem, Macbeth, O Futuro Está nos Ovos, Rito do Amor Amargo, Electra, O Diário de um Louco, A Casa de Bernarda Alba, Titus Andrônicus, revelando para o leitor de que maneira os encenadores conceberam seus trabalhos.

Mais informações no endereço on-line:
http://edufba.blogspot.com/
EDUFBA (71) 32836160
http://www.blogger.com/

Registro 262: Luiz Fernando ramos escreve sobre Boal

MAIS DO QUE PEÇAS, REFLEXÕES E IDEIAS IMORTALIZAM BOAL
Luiz Fernando Ramos
Crítico da Folha
(Folha de S. Paulo, 05.05.2009)

Há um consenso em torno de Augusto Boal. É a personalidade do teatro brasileiro mais conhecida internacionalmente, com livros traduzidos para vários idiomas e seu nome inserido nas principais enciclopédias teatrais. Se esse reconhecimento abrange a sua condição de dramaturgo e encenador, foi principalmente pelas suas ideias e reflexões teóricas que Boal se fez famoso.Sua primeira contribuição teórica relevante foi o "sistema coringa", surgido nos anos 60 no Teatro de Arena. Boal partiu das ideias de Bertolt Brecht, particularmente do efeito de estranhamento, em que se propõe ao ator uma distância de seu personagem, para que possa ver criticamente suas ações e permita ao público partilhar esse olhar crítico.Boal distanciou atores dos personagens por meio do uso coletivo dos papéis, com os atuantes compartilhando a mesma "máscara", ou característica social e psicológica.Essa técnica foi utilizada pela primeira vez em 1965, na encenação de "Arena Conta Zumbi", e aprimorou-se no espetáculo seguinte, "Arena Conta Tiradentes".
A "Poética" de Augusto Boal, como a chamou Anatol Rosenfeld, foi publicada sob o título "Elogio Fúnebre do Teatro Brasileiro Visto da Perspectiva do Arena". Rosenfeld apontou, no ensaio crítico "Heróis e Coringas", a incompreensão por Boal das teses de Brecht ao conceder aos protagonistas a empatia diante do público que recusava ao coro. Segundo Rosenfeld, mesmo reconhecendo a importância "singular" do ensaio de Boal "no pensamento estético brasileiro", essa opção favorecia uma identificação festiva do público com o herói, no caso Tiradentes, e traía as ideias de Brecht.
Com o livro "O Teatro do Oprimido e Outras Políticas Poéticas", de 1975, escrito no exílio na Argentina, Boal produziu sua obra teórica mais influente. Ali, combinou técnicas teatrais por ele criadas, como o teatro invisível, o teatro jornal e o teatro fórum, para mesclar a ação teatral e a ação política contra todas as formas de opressão -econômica, familiar, racial ou religiosa.Boal continuaria produzindo livros que aprofundavam aquela ideia fundamental, de que qualquer ser humano pode atuar em favor da transformação de si e do mundo. Em um de seus últimos ensaios, de 2006, discutiu o teatro do oprimido na perspectiva da sensibilidade dos bebês.O legado de Boal como pensador pode ser avaliado pelos inúmeros grupos, no mundo todo, que partem de seus exercícios e estratégias teatrais na militância política e nas práticas de ensino e de ação cultural. Muito menos que por suas peças e encenações, imortalizou-se pelos seus escritos.