sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Registro 385: Entre Nós, um espetáculo imperdível


Dois motivos me levaram ao Teatro Gamboa para ver Entre Nós, texto e direção de João Sanches, os atores Igor Epifânio e Anderson Dy Souza e a crítica de Celso Jr. em seu Cadernos Grampeados. 

Digo de cara: o que se vê no palco do Gamboa é um exercíco teatral da melhor qualidade. 

Um texto inteligente sem a pretensão de obra prima, toca num assunto dos mais atuais: diversidade sexual, homossexualidade e por tabela homofobia. Sem levantar bandeira, mas cheio de toques para a platéia pensar, Entre Nós logo prende atenção do público que se torna cúmplice da cena. Cena aberta, direta, comunicativa, brechtiana, mas sem nota explicativa, pois não se trata de teorização sobre os postulados de Brecht, mas da utilização de recursos de comunicação que o bruxo alemão propunha para o teatro, ou pelo menos para o seu teatro. 

Daí que Entre Nós ensina divertindo, cumprindo uma promessa nem sempre posta em prática pelo teatro. Tal premissa, que não deve ser esquecida pelas linguagens da arte, se inflitra na cena, tanto no texto quanto na direção e no trabalho dos dois intérpretes acompanhados por um músico e sua guitarra, um pouco estridente em alguns momentos. O músico pontua a cena, mais um personagem em cena. 

E são muitos os personagens vividos pelos dois atores. E eles ganham a platéia pois sabem jogar como camaleões que mudam de cor no jogo de se mostrar e se esconder. Para contar a história de uma garoto que se descobre apaixonado por um colega de sala, Igor e Anderson interpretam uma dúzia de personagens sem nenhum recurso exterior de caracterização, somente o corpo talentosamente trabalhado e exposto para a apreciação. Calma, não pense que você verá corpos nús ou semi-nús. Estou falando de outra coisa. 

Interagindo entre si e com o público, os intérpretes atigem um nível muito bom, comprovando a já demostrada habilidade para a cena como vi em outros espetáculos.

Além de atuarem, operam a luz. Mesmo este achado da direção, repetindo-se exaustivamente não incomoda e torna-se parte da gramática do espetáculo. Penso que a luz podia ser explorada com mais efeitos de cor, como na cena do prostíbulo. Por que não assumir o clichê, tão discutido no espetáculo e preencher a cena final de luz cor-de-rosa, rapazes? Assumam o clichê!

Não há cenário e nem precisa. A cena é preenchida pelos atores, mas nem sempre pela música, embora presente o tempo todo, mas carecendo de meios tons, de mais ironia nos seus comentários. Os figurinos concebidos de maneira adequada cumprem a função dentro do espetáculo.

Sem medo da adjetivação, o espetáculo é divertido, leve, consequente, debochado, didático, divertido, romântico, crítico, ambíguo. Os diferentes sentidos tornam a peça mais interessante ainda. Mas não há indefinição. O jogo entre simulacro e realidade se explicita como um dado do que é proposto. Tanto a história que vai se construindo quanto a relação entre os dois atores é permeada de muitos sentidos o que torna a sequência final muito engraçada, pois surge a dúvida sobre quem quer beijar, os personagens ou os atores.  

Vá conferir. Os rapazes ficam até 29 de janeiro. Desejo que eles voltem a cartaz pelo seguinte motivo: teatro bom deve permanecer em cartaz e atrair um público diverso, não somente o entendido...