sexta-feira, 17 de abril de 2009

Registro 258: Scotty Wagner

"We hope for better things; it will rise from the ashes. Detroit #1"
Sheepskin (pele do carneiro), Rope (corda), Sticks (varas)
Eis que de repente me chega uma mensagem eletrônica vinda dos Estados Unidos. O autor escrevia em português e pedia desculpas pelos erros, já que não dominava o nosso idioma. Com todos os problemas, entendi muito bem o que ele queria e passamos a conversar por essa via surpreendente que é a Info-via, uma estrada de muitos atalhos, rápida e sem muita burocracia. Ela nos coloca em contato com pessoas do mundo inteiro. É certo que nesses contatos muita coisa indesejável chega até nós. Não é o caso da mensagem de Scotty Wagner, artista plástico, desejoso de conhecer a Bahia e quem sabe estudar por aqui.
Scotty estuda na Universidade de Michigan e seu interesse em manter contato com o ambiente das artes visuais de Salvador fez com ele me escolhesse como interlocutor. Não sei os motivos nem como me encontrou para solicitar informações sobre o assunto que lhe interessa, mas a aproximação se deu. A partir daí, o diálogo se fez. Logo na primeira mensagem, ele anexou a imagem de um dos seus trabalhos. Não consegui abrir o documento, talvez por imperícia, já que não domino muito bem essa ferramenta. O computador para mim é uma máquina de escrever metida besta. Além disso, como não aprendi datilografia, meto os dedos onde não devia e provoco desastres.
Mas voltemos ao assunto desse registro. Pedi a Scotty enviasse novamente o imagem e agora ela é publicada em Cenadiária.
O trabalho de Scotty Wagner, pelo menos esse, me impressionou bastante. Primeiro por unir materiais orgânicos tão díspares num contraste que denota força e convívio entre esses elementos contrastantes, pele de carneiro, corda, varas ou gravetos, ocupando o campo/espaço e o campo da nossa percepção e consciência. Retirados da natureza, processados pelo vigor criativo, o trabalho traz para o interior do espaço onde se mostra as forças vitais contidas na matéria tão próximas de nós, transpostas de um lugar para outro.
Ao olhar We hope for better things; it will rise from the ashes. Detroit #1 a memória do sertão se faz tão presente. Mas não procuro uma narrativa. A pintura, a escultura já não precisam narrar, mas ser tocado pelo trabalho de Scotty Wagner um reboliço de abelhas, pios de pássaros, estalar de madeira e balidos ecom em mim. Ecoam também os cheiros agrestes e o surdo barulho do porrete abatendo carneiros e bodes.
Espero que Scotty venha até a Bahia e amplie seus contatos com os da terra. É sempre bom lembrar que o diálogo alimenta. Ao olhar a escultura ou o objeto, como queiram, minha memória leva-me também a Joseph Beuys (1921-1986). Penso que a escultura de Scotty conversa com obras do alemão. E se porventura existe em Scotty a "angústia da influência", não alimentemos tal sentimento. O que vemos são passagens, conexões e o que fica é a sua criação