Pela
janela da antiga cela, hoje um dos bons apartamentos da Pousada do Convento do
Carmo, vimos uma construção, mas não das antigas. De qualquer maneira, o
interesse por ela fez com que saíssemos sem destino, mas com vontade de ver de
perto o imóvel. Depois de íngreme ladeira, a rua terminava no topo do morro e
não havia com seguir de carro. Estacionamos em frente a uma casa pintada de
azul, muito simples, mas bem cuidada. Da casa saiu um dos seus moradores.
Reconheci o moço que pintava a Pousada no dia da nossa chegada. Ele também nos
reconheceu e nos levou para conhecer o imóvel, um antigo hospital para crianças,
atualmente uma creche.
Do
alto do morro, a vista da cidade é memorável. Fotografamos e entabulamos
conversa com Caetano, o moço que nos recebeu. Ele mostrou a construção que está
fazendo no terreno que lhe pertence. Interessamo-nos por plantas e ervas do
terreno e ele foi identificando cada uma delas com sabedoria adquirida pela
vivência: aroeira, vassourinha, mastruz, velame, jurubeba, entre outras. Uma serigueleira
carregada de frutos ainda verdes chamava a atenção. Agradecidos pela gentileza,
descemos a ladeira e seguimos o passeio para os lados da Santa Casa de
Misericórdia.
Antes
do almoço, fomos mais uma vez dar uma volta na praça em frente ao Paraguaçu. Em
torno do monumento que homenageia as lutas pela Independência da Bahia, movimento
resistente começado em Cachoeira, havia uma exposição de fotos de Seu Zé e de
pinturas de Davi Rodrigues. Adquirimos duas pinturas em papel e uma foto e logo
nos entrosamos. O cidadão cachoeirano é receptivo e conta orgulhosamente sobre
a cidade, sua vida cultural e artística. Davi Rodrigues foi premiado na Bienal
do Recôncavo, agraciado como artista da região. Sua pintura de temática
fortemente marcada pela religiosidade sincrética de Cachoeira, se expressa
formalmente por uma variedade cromática rica em detalhes obsessivamente
trabalhados, remetendo ao pontilhismo. Ex-aluno de Hansen Bahia, o pintor iniciou
seu trabalho como gravador, mas enveredou para a pintura, visto que os quadros
despertavam mais interesse.
Na
frente da exposição, ou seja, do monumento uma manifestação religiosa
acontecia. Um terreiro de umbanda realizava culto em praça pública homenageando Oxum ou Iemanjá. Certamente Oxum,visto que o rio de águas doces banha a cidade. É possível que a cerimônia era para a Rainha das Águas. Um balaio com flores aguardava o momento de ser levado até o rio.
Atraídos pelo evento aproximamo-nos respeitosamente e acompanhamos com palmas os
pontos cantados pelos filhos e filhas do terreiro, muito deles em transe.
Depois
do almoço visitamos o atelier de Mimo, escultor. Adquirimos quatro peças entalhadas
na madeira, quatro pequenos Orixás.
Amanhã
tem mais...