sábado, 9 de fevereiro de 2013

Registro 418: Diário de Cachoeira, mais um dia...


Pela janela da antiga cela, hoje um dos bons apartamentos da Pousada do Convento do Carmo, vimos uma construção, mas não das antigas. De qualquer maneira, o interesse por ela fez com que saíssemos sem destino, mas com vontade de ver de perto o imóvel. Depois de íngreme ladeira, a rua terminava no topo do morro e não havia com seguir de carro. Estacionamos em frente a uma casa pintada de azul, muito simples, mas bem cuidada. Da casa saiu um dos seus moradores. Reconheci o moço que pintava a Pousada no dia da nossa chegada. Ele também nos reconheceu e nos levou para conhecer o imóvel, um antigo hospital para crianças, atualmente uma creche.

Do alto do morro, a vista da cidade é memorável. Fotografamos e entabulamos conversa com Caetano, o moço que nos recebeu. Ele mostrou a construção que está fazendo no terreno que lhe pertence. Interessamo-nos por plantas e ervas do terreno e ele foi identificando cada uma delas com sabedoria adquirida pela vivência: aroeira, vassourinha, mastruz, velame, jurubeba, entre outras. Uma serigueleira carregada de frutos ainda verdes chamava a atenção. Agradecidos pela gentileza, descemos a ladeira e seguimos o passeio para os lados da Santa Casa de Misericórdia.

Antes do almoço, fomos mais uma vez dar uma volta na praça em frente ao Paraguaçu. Em torno do monumento que homenageia as lutas pela Independência da Bahia, movimento resistente começado em Cachoeira, havia uma exposição de fotos de Seu Zé e de pinturas de Davi Rodrigues. Adquirimos duas pinturas em papel e uma foto e logo nos entrosamos. O cidadão cachoeirano é receptivo e conta orgulhosamente sobre a cidade, sua vida cultural e artística. Davi Rodrigues foi premiado na Bienal do Recôncavo, agraciado como artista da região. Sua pintura de temática fortemente marcada pela religiosidade sincrética de Cachoeira, se expressa formalmente por uma variedade cromática rica em detalhes obsessivamente trabalhados, remetendo ao pontilhismo. Ex-aluno de Hansen Bahia, o pintor iniciou seu trabalho como gravador, mas enveredou para a pintura, visto que os quadros despertavam mais interesse.

Na frente da exposição, ou seja, do monumento uma manifestação religiosa acontecia. Um terreiro de umbanda realizava culto em praça pública homenageando Oxum ou Iemanjá. Certamente Oxum,visto que o rio de águas doces banha a cidade. É possível que a cerimônia era para a Rainha das Águas. Um balaio com flores aguardava o momento de ser levado até o rio. Atraídos pelo evento aproximamo-nos respeitosamente e acompanhamos com palmas os pontos cantados pelos filhos e filhas do terreiro, muito deles em transe.

Depois do almoço visitamos o atelier de Mimo, escultor. Adquirimos quatro peças entalhadas na madeira, quatro pequenos Orixás.

Amanhã tem mais...