domingo, 10 de maio de 2009

Registro 264: Depoimento VI

O jornal O Estado de S. Paulo em seu Caderno 2 - Cultura - sempre aos domingos - apresenta um espaço denominado Antologia Pessoal, no qual profissionais das artes dão o seu depoimento sobre assuntos de sua área. As perguntas não variam, são sempre as mesmas. Ao apropriar-me da idéia, acrescentei uma pergunta e reformulei algumas; basicamente são as mesmas do jornal.Assim, convido artistas baianos ou residentes em Salvador para deixar o seu depoimento no blog Cenadiária. Cada participante indicará um artista para que se forme uma rede de registros e opiniões. Semanalmente, a Cenadiária vai trazer uma personalidade do teatro baiano para o deleito do leitor. Divirta-se.
Antônio Marques, nascido em Conceição do Jacuípe, interior da Bahia, Antônio Marques é formado em Direção Teatral pela Universidade Federal da Bahia, em Artes Plásticas pela Universidade Católica do Salvador e Especialista em Fundamentos do Ensino da Arte pela Faculdade de Artes do Paraná. Diretor Artístico da Arte Sintonia Companhia de Teatro desde a sua formação, em 2000, onde dirigiu os espetáculos “Um Cravo na Lapela”, “A Serpente”, “Pedaço de Mim”, “A Lei e o Rei”, “Supernordestinos Contra o Monstro da Mandioca” e “Zona Contaminada”. Em 2008, dirigiu “O Submarino”, comédia de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa, com Diogo Lopes Filho e Márcia Andrade. Fez curso de Direção Teatral com Fernando Guerreiro e de Dramaturgia com Aninha Franco. Em julho, sob sua direção, estréia o infanto-juvenil “H2Ópera”, de Luís Sérgio Ramos.

1 – Que atores ou atrizes cujo trabalho em teatro você acompanha?
Sou um grande apreciador do teatro baiano, acredito muito no teatro que fazemos aqui, não só pela qualidade que imprimimos em nossos trabalhos, mas também pela garra que temos, onde fazemos espetáculo com ou sem dinheiro, com a mesma entrega. Mas voltando a pergunta, além dos atores da Arte Sintonia – Cia que dirijo – Denise Correia, Lívia França, Leonardo Freitas e Gilson Garcia, muitos atores baianos me impressionam em cena, principalmente as mulheres, dentre elas: Cristiane Mendonça, Andréa Elia e Rita Assemany. Da nova geração, acompanho e gosto muito do trabalho de Simone Brault (com quem já tive o prazer de trabalhar) e Mariana Freire.

2 – Que atores ou atrizes de cinema compõem a sua galeria de favoritos?
Meryl Streep, sem dúvida! Toda as vezes que a vi interpretando fiquei fascinado. Nicole Kidman também faz parte da minha galeria, só acho que ela poderia escolher melhor os roteiros, mas é uma excelente atriz.

3 – Qual diretor de teatro cujo trabalho faz você retornar ao teatro?
Sou fruto da Escola de Teatro da UFBA, então, os meus mestres serão sempre minhas referências, por isso, acompanho de perto o trabalho de Luiz Marfuz, Deolindo Checcucci, Paulo Cunha, entre outros. No entanto, toda vez que assisto a um espetáculo de Fernando Guerreiro, saio maravilhado do teatro, porque por mais que já tenhamos visto suas encenações, ele sempre nos traz frescor, nos faz sair maravilhados, seja nas comédias rasgadas, com uma assinatura que só ele tem, ou em espetáculos densos, como “Calígula” e “Eqqus”.

4 – Dê exemplo de um criador teatral muito bom, mas injustiçado.
Pode ser eu? (risos)

5 – Cite uma criação teatral surpreendente e pela qual você não dava nada.
“Os homens são de marte... e é pra lá que eu vou!”, com a Mônica Martelli. Não dava nada pela peça, mesmo sabendo de todo o sucesso que já havia feito no eixo Rio/SP. Sai do teatro ligando para os amigos irem assistir.

6 – A cena baiano-brasileira tem alguns momentos teatrais antológicos. Cite algumas que marcaram sua vida.
Nossa, já assisti a tanta coisa boa! “Senhora dos Afogados”, resultado do Curso Livre da UFBA com direção de Paulo Cunha, “Abismo de Rosas” foi um espetáculo fascinante, “Lábaro Estrelado”, a primeira versão de “Cabaré da Raça”, hoje se perdeu, mas quando estreou era maravilhoso.

7 – Que encenação lhe fez mal, de tão perturbadora?
“O Sapato do meu Tio”, com direção de João Lima. Saí do teatro com minha vocação reafirmada.

8 – Que espetáculo teatral mais o fez pensar?
“Mestre Haroldo e os Meninos”, dirigido por Ewald Hackler. A peça fala de respeito, igualdade, mexe com questões raciais e, sem dúvida, me fez refletir sobre estes assuntos.

9 – Comédia é um gênero de segunda?
Comédia é um gênero de primeira, sem dúvida, quem não gosta de rir? Mas é necessário que tenhamos outros gêneros com casa cheia também.

10 – Cite uma peça difícil, mas significativa.
“Seu Bonfim”, com Fábio Vidal.

11 – Cite uma encenação que imagina ter sido memorável e você não viu.
“A Casa de Eros”, de Possi Neto, em comemoração aos 40 anos da Escola de Teatro da UFBA.

12 – Uma encenação difícil, mas inesquecível.
O ciclo de “Os Sertões”, encenado pela Oficina Uzyna Uzona, no Museu do Ritmo.

13 – Que texto(s) escrito(s) nos últimos dez anos merecia um lugar na história do teatro brasileiro?
“Abismo de Rosas” de Cláudio Simões e “Alta Noite”, de Elísio Lopes Jr.

14 – Qual o texto dramático clássico brasileiro, de qualquer tempo, você recomendaria encenações constantes?
“Eles não usam black-tie”, de Gianfrancesco Guarnieri. Mais do que nunca, é preciso entender que o coletivo vale mais do que o individual.

15 – Cite um(a) autor(a) sempre ausente dos cânones que merece seu aplauso?
Flávio Marinho, pela ausência de encenações de seus textos na Bahia.

18 – Que montagem (ou ator, autor, diretor, cenógrafo, figurinista, iluminador) festejado pela crítica você detestou?
Caramba, já assisti tanto mau teatro, (risos) vindo do Sul. Recentemente, assisti “O Manifesto”, protagonizado por Eva Wilma, mas lembro também que assisti, há alguns anos, “Gata em teto de zinco quente”, com Vera Fischer. Eu e meus amigos saímos constrangidos do teatro.

19 – E que montagem (ou ator, diretor, autor) demolida por críticos você gostou?
Não temos críticos em Salvador.

20 – Qual peça e personagem gostaria de fazer? Você pode escolher três.
“As Primícias” de Dias Gomes; “Coração Brasileiro” de Flávio Marinho e “Gota D’ água” de Chico Buarque.

21 – Que virtude você mais preza no teatro de qualidade?
Disciplina, comprometimento.

22 – O que mais incomoda você no mau teatro?
Salvador tem uma coisa que me incomoda: aqui, todo mundo pode ser autor, pode ser diretor, pode ser ator. Concordo, acho que todos podem, desde quando estude para isso. O que me irrita é que muita gente diz que não gosta de teatro e, por acaso, vai assistir a uma peça que um amigo fez de um curso qualquer, com um resultado qualquer, e vai sair de lá achando que assistiu a uma peça de teatro e convicto de que teatro é uma merda.