quinta-feira, 3 de maio de 2007

Registro 61: Um belo e melancólico poema

CREPÚSCULO NO RIO DO RECIFE

Rubem Rocha Filho

I
As águas tecem no frio
Cantigas de pedra e limo,
Assombro de arrimo e nuvem.
Vivos, mortos se consomem.
Os mitos revelam o rio
Areias, redes, aldeias
As vagas noites do homem
Ruas com destino ao mar.

II
Em lama o Capiberibe
Esvaziando cidades
Ramas de seus descaminhos
Tão perdidos, tão sozinhos
Une rastros e saudades.
Que haja amor ou desespero
Escorre como frágil escama
Desta tarde o navegar.

III
Pontes de casas e tempos
Sei que cantam, sei que passam,
Que os barcos têm remos graves,
Velas de silêncios pensos.
Em sonho vão respondendo
Ao desfilar deste ocaso.
Mãos de sargaço desfiam
As contas do meu pesar.
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Rubem Rocha Filho é carioca, reside em Recife desde 1968, ”mas o coração é baiano da década de 60!” afirma ele. Cursou Filosofia, é poeta, dramaturgo, diretor de teatro e escreve livros para crianças. Foi professor de muita gente pelo Brasil.

Rocha Filho é amigo do peito, daqueles guardados no “lado esquerdo”. Sua presença em minha vida foi fundamental para a minha formação.

O poema registrado na Cenadiária foi premiado na 6ª edição do Concurso Banco Real Talentos da Maturidade – 2004. Sobre a sua participação, Rubem assim se expressou: “O concurso levanta a auto-estima. É uma oportunidade maravilhosa. Fico contente com o cuidado do banco Real na divulgação do concurso e na publicação dos vencedores. Acredito que vale mais do que prêmio em dinheiro.”
Conforme os jurados, “o poema reflexivo e intenso, formalmente bem realizado, que utiliza o rio como imagem melancólica da passagem do tempo pessoal e histórico”, motivou a escolha do poeta como um dos vencedores do concurso