quinta-feira, 27 de março de 2014

Registro 454: O DIA DO TEATRO

Não é o dia do ator, mas o dia do teatro, 27 de março. Um dia que vai findando, mas nesta hora em que muitos artistas estão no palco, cabe ainda homenagear do Dia do Teatro com o poema de Brecht.


VOCÊS VIERAM FAZER TEATRO?PRA QUE??

Brecht

Vocês vieram fazer teatro. Uma pergunta: para que?
Vocês vieram mostrar ao público o seu talento, então vocês se apresentam como fenômenos…
 Do público, vocês esperam que ele aplauda vigorosamente, arrebatado de seu mundo para vasto universo, provando com vocês a vertigem das grandes alturas e as paixões em seu paroxismo.
 Mas agora uma pergunta: Pra que?
 Lá embaixo, na plateia, uma questão explode:
 obstinadamente  alguns exigem
 que vocês não se limitem  a se exibir
 mas lhe mostrem o mundo.
 De que nos servem, dizem eles,
 Ver sempre como fulano sabe ficar triste
 e beltrano cruel,.
 ou o rei perverso que cicrano interpreta?
 Qual o objetivo dessa eterna exposição de
trejeitos  e convulsões de alguns indivíduos?
 Você, ator, deve,  antes, de qualquer um,
 dominar a arte de observar (…)
E seu aprendizado deve começar entre os homens.
 Que sua primeira escola seja seu lugar de
 trabalho, sua casa, seu quarteirão.
 E a rua, o subúrbio, as lojas.
 E ai observe cada um.
O estranho como se ele fosse conhecido
 e  o conhecido como se fosse estranho (…)
 E observa mal quem de suas observações
 não  sabe o que fazer.
 E ninguém consegue uma visão precisa do homem
 Se ignorar que o homem é o destino do homem (…)
 Assim, vocês podem, atores
 aprendendo e ensinando, por seu trabalho criador,
 intervir em todas as lutas dos homens do seu tempo.
 E também, pela seriedade do estudo e serenidade do conhecimento,
 ajudar, a fazer da experiência

 da luta pelo bem de todos e da justiça, uma paixão

sábado, 8 de março de 2014

453: Sobre o carnaval em SalvaDOR

Comentar o carnaval em Salvador é chover no molhado. Há os que gostam incondicionalmente e não estão nem aí para os desmandos das empresas que visam somente o lucro, cometendo abusos como impedir foliões de beberem a marca da sua cerveja preferida. E tudo isso com o aval do poder público avalizador dos desmandos.

Em nome da rentabilidade da festa, passam por cima de tudo e tudo permanece como "dantes no castelo de Abrantes". A cidade foi alaranjada sobre pressão, uma versão do capitalismo mais selvagem. E a pérola da "sabedoria" ficou por conta do cantor do Pisirico, ao dizer que sua música era uma resposta ao capitalismo. É capaz de virar tese de sociologia. Só rindo! Ah, os antropólogos do lugar também podem orientar teses sobre músicas e comportamentos carnavalescos.

Ninguém precisa ser um estrategista para ver que o circuito Barra-Ondina já não suporta a avalanche de camarotes, postos policiais, banheiros, barracas e outras parafernálias de prejudicam os moradores da região, a maioria ilhada durante mais de uma semana. Famílias, algumas com seus idosos e enfermos, muitas sem condições de sair da cidade são obrigadas a aguentar o mau cheiro, os decibéis dos trios, que de trios-elétricos não nem mais nada. 

As música que fazem sucesso são de uma baixaria atroz. Letras preconceituosas, rebaixam a mulher à condição de objeto. O pior é que muitas não conseguem perceber o teor machista e violento das letras. Não tenho nada contra a festa da carne, carnaval é isso mesmo. Mas ultrapassamos o limite da civilidade. Tudo é de uma grossura extremada. Somente um cérebro de ostra, desejoso do sucesso a qualquer preço faz uma coisa chamada Lepo lepo.

Alguns textos foram escritos sobre a festa. O do jornalista Chico Castro Jr. é muito bom, publicado na edição de 02 de março.. Cito o último parágrafo:

"Mas como um exemplo, deixo uma reflexãozinha rápida e certeira sobre Raiz de Todo Bem, hit de Saulo Fernandes. nada contra o rapaz. Até aprecio sua vibração caymminiana-hipster-telúrica. Mas é que é estranho tanta gente bem informada deslumbrada com a música, como se fosse um prodígio de criatividade. Gente, olha só: em coisa de um minuto, o rapaz consegue rimar "África-iô-iô" (hein?) com "Salvador" e "meu amor". "Fé" com "candomblé". E "Nordeste" com "caba da peste". Precisa mesmo dizer mais?"

E o que dizer da canção  "essa mulher quer montar em cima do meu cavalinho, mas quem dá palmadinha sou eu"? 

Hoje,  8 de maio, o jornal A Tarde publicou três textos sobre o carnaval. Luiz Mott. Walter Queiroz Jr. e Dimitri Ganzelevitch escrevem sobre o carnaval. São visões diferenciadas, cabendo ao leitor apreciá-las criticamente.

O circuito do Campo Grande até a Praça Castro Alves vai sendo morto a cada ano. O circuito já não dá tanta grana.

Chega! Em junho tem mais carnaval. Mas junho não se faz os festejos joaninos? Tolice. Todas as medidas são tomadas nos gabinetes e implantadas de maneira autoritária, não importa o partido no poder.