sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Registro 439: Anúncios de espetáculos: decifra-me ou devoro-te

Conferindo no jornal A Tarde (27.09.2013) a programação do Festival Internacional de Artes Cênicas – FIAC, deparo-me com alguns textos no roteiro que divulga os espetáculos em cartaz em Salvador. Texto incompreensíveis para a maioria dos espectadores Dou-me ao trabalho de transcrevê-los, tal qual estão no jornal, para que leitor possa avaliar o quanto há de nonsense em cada um deles. Vejamos:

Autopoiese
“Exposição de fotografias e uma performance nas quais a composição das imagens e ações relacionam a organicidade do corpo e a materialidade dos cabelos, realizando uma metáfora à natureza circular da autoprodução como condição inerente do ser vivo”.

Vamos a outro

Big Bang Boom
“ O espetáculo é uma topologia instável, constituída  por uma sucessão de paisagens sobrepostas, portáteis e descartáveis, que nos faz refletir sobre limites e enquadramentos de espaço e tempo, do dentro e fora, do embaixo e acima, do vazio e cheio...”

Parecem-me textos de uma tese hermética, que não esclarece nada sobre o que se vai ver em cena. Não entro no mérito dos trabalhos, até porque não os vi. Mas colocando-me no lugar de um espectador mediano, não conseguiria decidir-me sobre ver os espetáculos. Os conteúdos dos textos, presumo, dirigem-se a um público especializado, fervorosos diante de enigmas. Tirando um ou outro texto dos anúncios escritos de maneira clara, situando o leitor para fazer a suas escolhas, a maioria não diz absolutamente nada sobre o espetáculo. O leitor precisa decifrar estranhos ao seu universo, pois tais códigos são mais afeitos a certas dissertações e teses, que fazem desparecer o objeto, mergulhado-os numa maré de conceitos. Tais recursos pirotécnicos tornam impenetráveis os discursos e tudo fica distante da vida.


Não defendo aqui a aniquilação de conceitos, longe de mim tal postura. Mas diante dos anúncios dos espetáculos, fico sem saber o qual a pretensão dos artistas.