sexta-feira, 2 de julho de 2010

Registro 314: Pataquadas baianas

Não sou chegado ao excessivo civismo, mas gosto de festas que movimentavam o cidadão e a cidade. Salvador está em festa, é 2 Julho, dia em que o sol brilha mais que no primeiro. Não é o caso, pois hoje amanheceu cinzento e chuvoso. Mas com chuva e vento o baiano vai para as ruas antigas pra ver e reverenciar o casal de Caboclos, símbolos nativistas da revolta dos brasileiros contra os portugueses que não aceitaram o Grito do Ipiranga. Aqui permanecendo sem arredar o pé do governo, tentavam manter sob seus domínios a rica região do Recôncavo e a capital com seu Porto na larga e bela Baía de Todos os Santos. 

A festa é centenária. Nela, os políticos de plantão usam o cortejo como vitrine. Quem acredita ainda em político e em partido, sai pra defender o seus credos! Essa é a parte mais desinteressante do desfile. O que gosto de ver e fotografar são as imagens que meus olhos não esquecem: as casas enfeitadas, as figuras históricas representadas por figurantes com suas roupas toscas, as bandas dos colégios, com suas balizas femininas tendo que ceder espaço para o rapazes, alguns não tão másculos, demonstrando suas evoluções ao longo do trajeto.  Quiseram proibir alguns rapazes de brindar o público com seus trejeitos. Uma pataquada baiana e homofóbica.

A segunda pataquada é a mudança do horário do cortejo por conta do jogo Brasil x Holanda. Tenho minhas dúvidas se essa é a melhor solução. O cortejo é centenário, anual e poderia seguir em meio ao jogo. Um onda de civismo.

A outra pataquada é a esdrúxula ideia do ocupante do Palácio de Ondina em dar o nome do estádio que surgirá das cinzas do conjunto esportivo da Fonte Nova, cujo estádio tem o nome de Otávio Mangabeira. Não esquecendo que havia também o ginásio coberto com o nome de Antônio Balbino, mais conhecido como Balbininho. Foi aí que vi os shows dos artistas da Jovem Guarda, vi Marta Vasconcelos ser eleita Miss Bahia e soube da solenidade de formatura de todos os cursos da Universidade Federal da Bahia, com estudantes protestando contra a ditadura.

No campo de futebol, eu assisti aos desfiles de abertura da Olimpíada Baiana da Primavera. Como aluno do Ginásio Edgard Santos desfilei certo ano. O tema mostrado pelo Ginásio era A Olimpíada na Grécia. E lá fui no pelotão dos atletas gregos, vestindo um ridículo saiote, sandália trançada nas pernas e peito nu. Na época, ninguém estranhava ver os estudantes baianos pelas ruas trajando roupas alusivas aos temas do desfile. Foi assim que cheguei ao estádio para encontrar colegas e professores na azáfama para fazer o Ginásio brilhar e ser classificado. Bela festa, com seu hino empolgante cujo verso ainda lembro "Canta a primavera em nossas vozes juvenis, circula a  primavera em nossa veias varonis...." No mesmo estádio, em um domingo de Bahia x Vitória, estive no campo para fazer algumas tomadas do filme Anjo Negro de José Umberto. Meu personagem, um juiz de futebol, marcava uma partida fictícia antes da verdadeira. O estádio lotado de torcedores... Ao me ver correndo e gesticulando, eles não vacilaram, deram-me uma vai monumental. Acho que nenhum ator jamais foi vaiado por tanta gente.

Eis que de repente,  vem o governador, que pouco governa, com a pataquada de querer nomear o novo estádio, uma obra discutível, de Lulão. Já não basta a mudança do nome do aeroporto? Mais uma aberração que temos de aguentar. E nada fazemos para deter tanto absurdo. A atitude do alcaide de plantão é oportunista, populista e explicitadamente puxa-saco.

Só me resta lembrar e dar viva a Cid Texeira, meu professor inesquecível.

É, os holandeses invadiram o Brasil!