terça-feira, 29 de julho de 2008

Registro 186: Eleição e igrejas

Em pleno século XXI, o retrocesso O jogo político eleitoral atrela-se as igrejas. Com isso, não se leva em conta o passado do candidato, sua postura ética diante do mundo e do outro, nem seu programa político e sua vinculação com o pensamento moderno. Basta que ele seja fiel a sua igreja que passa a ser um cidadão acima de qualquer suspeita. É como se a religião servisse de blindagem para os candidatos que correm por aí a divulgar o seu credo em detrimento do outro como se ele fosse eleito para gerir os interesses do seu grupo religioso.
Tal fato acirra cada vez mais a intolerância e as divisões em um mundo que se quer plural e diverso.
Esse registro deve-se ao fato de ter lido o comentário assinado pelo jornalista Josias Pires, enviado por e-mail. Transcrevo a nota tal qual recebi. Concordo em parte com ela. Os dois primeiros parágrafos vão ao encontro do que penso a respeito dos acontecimentos que envolvem políticos que colocam em primeiro plano o seu credo religioso, induzindo o eleitor a escolhê-lo. Manipulação. Quanto ao restante da nota não tenho muito o que dizer, mas acho que ela é tendenciosa, da mesma maneira que a reportagem citada.
Um pouco menos de "igrejice" faria bem aos políticos e aos eleitores. E quando falo isso, não nego a grandeza da religiosidade. O que se postula é que cada um cuide do sua crença e não faça dela bandeira para ganhar eleição. Tal postura vai ampliar cada vez mais o fosso entre os indivíduos, já que cada igreja se acha detentora da verdade, caminho aberto para o pensamento único.
Estou fora!
"A "contaminação" do processo eleitoral em Salvador pela dimensão religiosa pode ser considerada uma das novidades deste início da campanha. De fato, as atitudes tomadas pela administração do atual prefeito que levaram à demolição de um templo religioso e a má vontade com a regularização fundiária das casas-de-santo – numa cidade negra em que o candomblé sempre foi um fator de resistência étnica, religiosa e cultural – ajudaram a botar mais lenha na fogueira da intolerância religiosa, uma praga que ninguém de bom senso pode querer para Salvador, cidade que já tem problemas em demasia para resolver.

O poeta Caetano Veloso já cantou o seu desejo de que um prefeito desse um jeito na Cidade da Bahia. Certamente precisaremos de gerações de bons prefeitos para que a nossa cidade saia do caos econômico e social em que se encontra. Acredito que nós, jornalistas, podemos fazer alguma coisa em benefício da cidade, na medida em que cumpramos o nosso papel, transmitindo informações de qualidade, bem apuradas e bem escritas. Sabemos que nem sempre isto acontece e precisamos estar vigilantes para corrigir erros e continuar perseguindo os acertos.
O que me parece inaceitável na reportagem do jornal A Tarde sobre a visita de Pinheiro ao terreiro Maraió Lage é que o repórter "informa" que a yalorixá teria autorizado fotografias no interior do templo e que o candidato é que teria se recusado a ser fotografado. Conversei hoje pela manhã com Mãe Jojó que assegurou ser "mentira" – ela jamais teria autorizado isto, inclusive porque nunca procedeu desta forma e não seria agora, em plena campanha eleitoral, que iria mudar o seu comportamento. É proibido, sim, fazer fotografias no interior do terreiro – é uma regra básica daquela Casa. A postura de Pinheiro foi respeitar o desejo da mãe-de-santo.
Outro aspecto que pode ser apontado como desmedido foi o tamanho da foto. É a primeira vez que o jornal publica uma foto daquela dimensão de um candidato na atual campanha. Uma foto do candidato saindo do terreiro depois de ter conversado com Mãe Jojó. O significado da foto foi construído pelo texto – este é um caso em que as palavras falam mais do que uma imagem. Por fim, acredito que este tipo de jornalismo é uma contribuição para atiçar o clima de intolerância religiosa que grassa em alguns setores da nossa cidade. Quem ganha com isto?"