terça-feira, 31 de março de 2009

Registro 255: Insensibilidade

Transcrevo a notícia tal qual está na Folha de S.Paulo edição de 31 de março de 2009, motivado pelo fato de não encontrar resposta para tanta estupidez. Não há explicação que consiga dar conta da miséria humana. Ao acabar de ler o relato fui tomado por uma forte tremor emotivo. Você leitor poderá perguntar os motivos dessa reação, se tantos crimes estúpidos acontecem diariamente. Isso é certo, mas não tenho explicação para lhe dar. Só quero registrar o fato e pensar na doença que cada um carrega dentro de si. Com isso não quero justificar o ato como fruto da insanidade. Não. É fácil encontrar a resposta ao dizer: - É um louco. Isso não basta. Eu queria compreender, somente isso. O que passou pela cabeça desse humano-monstro? O que levou-o a levantar a arma depois de ter consumado o assalto? Em que ferida Karla Reis tocou, para fazer o rapaz gritar? Pois o gesto dele só pode ser um grito... Eu queria sentir comoção por ele da mesma forma como senti essa jovem que não conheço, abatida assim sem mais. Meu coração é demasiadamente humano e por isso endurecido em algum lugar que desconheço. Ou melhor que não admito, já que choro diante da desdita da moça...

Conversando com um amigo sobre o acontecido, ele falou do estado de barbárie em que vivemos. Eu continuo perplexo diante do caso.

Jovem é morta após pedir que ladrão devolvesse Bíblia

A estudante Karla Reis, 25, foi assassinada com um tiro na nuca diante dos pais, no Rio. Filha única, a moça voltava de um culto da Assembleia de Deus com os pais quando ocorreu o assalto; família afirma que ela não reagiu
ITALO NOGUEIRA, ANDRÉ ZAHARDA
A estudante Karla Leal dos Reis sairia ontem com os pais para comprar o presente de seu 25º aniversário, completados no sábado. Mas um assalto na noite de domingo interrompeu os planos e, em vez de comemorar mais um ano de vida da filha única, o porteiro Carlos Antônio dos Reis e a vendedora Iolete Fátima dos Reis tiveram que enterrá-la no cemitério do Catumbi, no centro do Rio.A jovem foi morta diante dos pais, a poucos metros da sede da Prefeitura do Rio, por um homem que acabara de roubar sua bolsa. A família voltava de um culto da igreja Assembleia de Deus quando, por volta das 20h, foi abordada por três homens -um deles armado.De acordo com o depoimento dos pais, a família tinha descido de um ônibus. Após serem abordados pelos assaltantes, Karla entregou a bolsa, mas pediu a um deles que devolvesse a Bíblia e seu crachá da Caixa Econômica Federal, onde estagiava no setor de análise de contratos habitacionais desde julho de 2008.O assaltante devolveu a Bíblia e a jovem e os pais se viraram para sair do local. Sem motivo aparente, segundo os pais, o ladrão atirou na nuca de Karla. Ele jogou a bolsa no chão alguns metros adiante. Mesmo abalada, Iolete incluiu em uma prece, durante o enterro, o assassino da filha."Fico feliz porque ela agora está nos seus braços, mas, Deus, me dê forças e consolo. Eu não merecia uma filha tão maravilhosa, com uma passagem tão bonita pela vida. Acalme o Rio de Janeiro e o rapaz que fez isso, este coração aflito", afirmou ela a cerca de 80 pessoas que foram ao cemitério do Catumbi acompanhar o funeral."O que mais nos choca é o requinte de crueldade do bandido. Ele já havia praticado o assalto e atirou. Ele não tinha motivo nenhum, nem mesmo o assalto, porque ninguém reagiu", disse o pastor Fábio Borges, amigo da família. Karla é descrita como uma jovem reservada e dedicada.Falava pouco e saía de casa apenas para a igreja, faculdade ou estágio. Durante a infância, morou na Vila Cruzeiro, uma das favelas mais violentas do Rio. Segundo um primo dela, Davi Reis, ela se formaria em administração em julho.Considerada um "ponto de equilíbrio" na família, foi a responsável por converter os pais à religião. No velório, o pai segurava a Bíblia que Karla havia lhe dado. A jovem ajudava a família a pagar as contas com o que ganhava no estágio. "Ela estava sempre sorridente, gostava de ajudar os outros. É triste ver uma covardia dessas e não ter como agir", disse Davi.De acordo com o pastor, ela nasceu prematura e "batalhou para sobreviver". "Ela era uma menina ótima, exemplar. Nasceu com complicações terríveis e batalhou para sobreviver. Venceu ao nascer e venceu na vida", afirmou ele.
Suspeitos. Ainda na noite de anteontem, a polícia deteve dois rapazes suspeitos de envolvimento no crime. Os pais de Karla afirmaram que não tinham certeza se eles participaram da ação. A polícia suspeita que os criminosos sejam do morro São Carlos, próximo ao local. Os latrocínios -roubos seguidos de morte- aumentaram 22% de 2007 para 2008 (subiram de 192 casos para 235), segundo o Instituto de Segurança Pública. Para especialistas, o aumento se deve ao acesso fácil de ladrões a armas.
Colaborou FÁBIO GRELLET.

Registro 254: Lakshmi

Dai-nos abundância, prosperidade e fortuna!
Que a chuva regue a terra
Que o leite e o mel não nos falte
e que seja para um e para todos.