domingo, 31 de maio de 2009

Registro 269: Relato de uma semana que se finda

A semana que se finda foi movimentada. Fazer um relato sobre ela é dar conta de coisas que acontecem e que me põe em movimento ou não. Depende do que rola ou do meu jeito de encarar cada situação. Mas vamos num giro sobre a semana soteroplitana.
O clima em Salvador continua ameno e isso, pra mim, é uma benção. Pena que as chuvas desabriguem tantos com tão pouco. Não suporto o calor, uma coisa nada civilizada. Caso me pergunte por que eu estou em Salvador, terra de tanto calor, digo que tem coisas por aqui de que gosto muito. Mas não gosto dessa tal de "baianidade", tema de uma mesa coordenada pelo professor e ator e diretor Celso Júnior. A tal mesa aconteceu no V ENECULT, evento que discute a cultura. No seu blog Cadernos Grampeados, Celso faz um reflexão sobre cultura ou falta dela, baianidade e arte. Vale uma olhada. Você pode não gostar, mas tem humor por lá e muita seriedade no que ele pensa.
Também participei de uma mesa coordenada pela professora Antônia Pereira (PPGAC - UFBA), juntamente com as professoras Cássia Lopes e Cleise Mendes também do referido programa. Fui bendito entre as mulheres. Nosso tema era corpo e teatralidade na contracultura. Foi uma boa mostra e sinaliza para o tema - contracultura - que a meu ver é sempre olhado de esgueira, como aquela onda desbundada. Diante do que vejo por aí, fecho com o desbunde. A sala estava cheia, pena que não pudemos debater entre nós nem com os participantes. E olha que cumprimos o tempo destinado a cada comunicação. Ás vezes me ocorre que tais encontros, importantíssimos, são pensados para a ser assim mesmo: sem tempo.
Conheci a diretora Fran Teixeira, cearense de boa cepa, artista talentosa. Quem viu O Cantil que ela trouxe para o FIAC - Bahia (2008), sabe do que falo. A dramaturgia, direção e produção do espetáculo sob sua responsabilidade anima o espectador que anda reticente com o teatro. Eu ando assim. Por isso não saio de casa pra ver qualquer coisa. O Cantil uma leitura muito precisa de A Exceção e a Regra de Bertolt Brecht é inesquecível. Por falar em teatro bom, gostei de ver Alegria de Viver de Déborah Moreira e George Mascarenhas. Transitando pelo mito de Pigmalião, cruzando-o com o universo de Matisse, os dois artistas tocam nossos corações. Digo por mim que saí do teatro com vontade de fazer teatro. A vontade passou, mas não o desejo de voltar e ver novamente a criação desse dois sensíveis intérpretes. Eles lidam muito bem com a Mímica Corporal Dramática.
Na quinta-feira, 28, ainda como parte do ENECULT, houve lançamento de livros editados pela Edufba, entre eles, Transas na Cena em Transe: teatro e contracultura na Bahia, de minha autoria. O evento foi no belíssimo Palacete das Artes, um dos exemplares que restou da arquitetura do início do século XX em Salvador, datada de 1912. Poucos amigos estivarem por lá, mas os que compareceram animaram a minha noite e aqueceram meu coração. Ah, tinha uma gente metida, fazendo pose. Nariz em pé não faltava. Nessa ocasiões medito sobre a vaidade. Por vezes me sinto que nem aquele Poema em Linha Reta - Fernando Pessoa-Álvaro de Campos. Quando deu certa hora e achei que tinha cumprido o meu papel de autor, saí à francesa. Tenho dois livros publicado pela Edufba: Abertura Para Outra Cena: o moderno teatro na Bahia (2006), é anterior a Transas na Cena em Transe. O primeiro, trata sobre a criação da Escola de Teatro em 1956 e analisa o projeto de Martim Gonçalves. O segundo livro retoma outro momento da história do teatro na Bahia. Outro dia um aluno me chamou de "referência". Rimos muito. É, parece que virei referência sobre o assunto. Ah, ia me esquecendo, fui entrevistado por uma aluna da Escola de Teatro sobre o XVI Curso Livre de Teatro, quando dei aulas e dirigi Píramo e Tísbe, de Vladimir Capella, um autor de teatro para criaças que a Bahia precisa descobrir. Ele é dos ótimos.
A semana foi também de muitas reuniões e expectativas: a Faculdade Social, onde sou docente e cooordenador do curso de Artes Cênicas, recebeu a comissão do MEC que veio para avaliar a instituição, em função do seu recredenciamento. Acho que nos saímos bem. Vamos aguardar o resultado. Por falar no curso de Artes Cênicas, preparamos o Seminário Interdisciplinar 2009.1, um momento muito interessante no processo artístico-pedagógico.
Recebi uma mensagem de Marcos Barbosa, dramaturgo e professor de mão cheia. O motivo da mensagem foi a leitura que ele fez de meu livro Sob o Signo das Luzes. Ah, os livros, os temas, os interesses nos ligam.
Ah, comprei livros. Compro livro na mesma medida que compro comida. Meu corpo também se alimenta de palavras. A minha mesa de cabeceira tem uma pequena pilha de coisas para ler. Devorei O Filho da Mãe, de Bernardo Carvalho. Gostei imensamente. Ao terminá-lo, recomecei a leitura, de tão bom que é o livro.
Assombrei-me com a ameaça da explosão nuclear da Coreia do Norte. Ditadores são sempre insanos. Eles são guiados pela razão louca. Durma-se com uma ameaça dessa!
Na República Sindicalista - o Brasil - um acontecimento me deixa sem entender a jogada, embora as "otoridades" tenham explicado. Falo sobre o apoio dado pelo governo brasileiro ao ministro da cultura do Egito, candidato ao maior cargo da UNESCO. Não desceu, estou entalado. Acho bacana a aproximação com os países árabes, mas apoiar o tal ministro... Ah, e tem um brasileiro credenciado para tal função, já atuando na UNESCO. Ele é preterido pelo seu próprio país e dizem que o homem é competente. Dá saudade de Stanislau Ponte Preta.
Pra encerrar, fui ver o coral da Igreja de Santana do Rio Vermelho regido por Giancarlo Salvagani. Eles cantaram uma Ave Maria em russo, muita linda e bem executada. Encerraram a missa com o Magnificat. Era uma cerimônia para coroar Maria. Meninas vestidas de anjo, meninos com velas formando uma corredor até o altar, mas tudo sem ritmo, sem noção de ritual muito menos de espetáculo. Deu vontade de meter o dedo e dizer como é que se faz uma cerimônia de coroação. Mania de gente de teatro, assumo. "A gente nasce para o que é". Êta sabedoria!
Ufa!