sábado, 2 de junho de 2007

Registro 94: Fragmento de um conto para criança

DONA ROSITA E SEU GATO MIAU

Raimundo Matos de Leão.

Era uma vez...

Na cidade do Esquecimento, vivia dona Rosita bordando lenços, laços, lençóis e vendo o tempo passar. Nada mais fazia além de fiar e bordar.

Rosita não tinha alegria e tristemente vivia a suspirar. Passava os dias num suspiro de dar dó. E no eterno suspirar deixava o tempo passar

- Ai...ui...ai! Uf! Uf! Uf! Ai, que estas horas não passam! Parece que o relógio não anda!
E assim passava o tempo, amanhecendo, anoitecendo e Rosita a reclamar. Olhava sempre o relógio e querendo brigar com ele, como se o tic-tac da máquina fosse o culpado de tudo.

Rosita tinha um gato que se chamava Miau. O gato, acostumado, seguia a sua dona naquele ritmo de vida, parado, sem novidades.

- Miau, miiiiaaauuuu! - o gato bocejava: - Anda tudo tão parado!

- Não acontece nada hoje em dia! Completava Rosita.

E os dois voltavam a suspirar.Uns suspiros tão fininhos de cortar o coração.

Todo mundo que pela casa passava, via pela janela, Rosita no seu fiar e o gato no ronronar.

Às vezes, o gato e sua dona amanheciam reclamando um do outro, e com isso a casa ficava entregue às pulgas, baratas e ratos.

Havia um rato que fazia a festa. Roía o queijo, o papel que embrulhava o queijo e tudo que cheirasse a queijo. Não contente com isso, metia o dente nas linhas e novelos na cesta de costura.

Rosita vivia implorando ao gato pra ele pegasse o rato, mas de tanta preguiça, acomodado que estava, o gato não saía do lugar. E pela sua cabeça passava: - “Deixa o bichinho comer, ele não pode morrer de fome!”

Assim passava o tempo. A praia se enchia de gente, depois os quintais e jardins cobriam-se de folhas amareladas. Mais um pouco, tudo que era de lã saía das gavetas e, por fim, as flores pintavam o mundo com suas cores. E daí tudo recomeçava e o calor inundava as cidades. Mas não pense que tudo era assim tão arrumadinho. Às vezes o tempo se encarregava de embaralhar tudo. Chovia e fazia sol ao mesmo tempo e as crianças brincavam, cantando:

- É sol e chuva, casamento de viúva!
É chuva e sol, casamento de espanhol!

Mas pra Rosita e Miau, o tempo não parecia passar, nem se atrapalhar!

Um dia, Rosita estava bordando e o gato veio se enroscar nos seus pés. Distraída, ela jogava fiapos de linha em cima do bichano. Os fiapos, no começo faziam até uma cosquinha gostosa, mas depois caíram tantos que Miau se irritou. Rosita, não se dava conta do que fazia com seu bichano de estimação. Quando estava que era só fiapo colorido, o gato deu um pulo, espreguiçou-se, miou bem forte e foi dizendo:

- Miaaauuuuu... Sabe de uma coisa? Quem fica parado é poste, eu quero é rebolar. Por isso vou me mandar. Vou pular a janela, vou ver o mundo do lado de lá!
Pegou uma trouxinha, juntou as suas coisas, enfiou a trouxinha num velho guarda-chuva e se mandou.