quarta-feira, 24 de março de 2010

Registro 300: Um professor que me ensinou a gostar de História

Uma lágrima para o professor. Fui seu aluno quando cursei a Licenciatura em História na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - UFBA, turma de 1970. Um inesquecível mestre
ISTVÁN JANCSÓ



ESTÊVÃO BERTONI

Ao lado do bibliófilo José Mindlin, István Jancsó foi vencendo aos poucos a "burrocracia", como conta sua filha Virgínia, para tornar real a doação da biblioteca do empresário à USP e, assim, dar vida ao projeto Brasiliana.
Professor de história formado pela USP em 1963, István era um húngaro de sotaque baiano -"oxente" era frequente em seu vocabulário.
Com os pais, chegou ao Brasil aos nove, fugindo da guerra.
Após se formar, mudou-se para a Bahia como professor.
Nessa época, aprendeu os segredos da culinária local com o amigo João Ubaldo Ribeiro.
Durante a ditadura, foi preso, torturado -perdeu parte da audição- e se exilou. Na França, deu aulas, mas voltou ao Brasil. Foi trabalhar numa indústria, mantendo o sonho de retornar à universidade.
Atualmente, era professor titular do IEB (Instituto de Estudos Brasileiros), da USP, e coordenador do Brasiliana, cujo prédio está sendo erguido. Nele, será possível pesquisar o maior acervo de livros e documentos sobre o Brasil.
À filha o pai dizia que cuidaria mais da saúde. Sua vida era toda dedicada à USP, conta o professor Pedro Puntoni.
Em 2007, ele intermediou a saída dos estudantes que haviam ocupado o prédio da reitoria. Assim explicou a atitude: "Sou professor, tinha que estar perto dos meus alunos".
Ontem, devido a um câncer, ele morreu aos 71 -23 dias após Mindlin. Deixa viúva, dois filhos e duas netas. O velório foi ontem, na Beneficência Portuguesa, de onde saiu aplaudido para o crematório.


Publicado na edição de 24 de março de 2010, Folha de S. Paulo