quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Registro 326: Estupidez

O texto que se segue é de autoria de Eliane Trindade e Daniel Bergamasco, Folha de S. Paulo, 27 de outubro de 2010. É o relata de um acontecimento inimaginável, pensave eu, até que a coisa se deu no âmbito de uma atividade reunindo universitários. Fui universitário, hoje sou professor de universitários, vi e tenho visto coisas absurdas, mas esta que se deu em Araraquara - SP passou dos limites. Fere o bom senso. O pior de tudo é que os organizadores, candidamente, disseram ser uma brincadeira. Somente crianças perversas, sem limite, sem educação, concebem uma brincadeira de tal monta, penso eu. E olha que não são crianças, os moços da Universidade Estadual Paulista. Somando-se ao pior, o vice-diretor da Faculdade de Ciências e Letras, veja bem, promete apurar, aplicar medidas disciplinares e conclui: "mas não queremos estabelecer um processo inquisitório". Ninguém em sã consciência quer processos inquisitoriais. Vivemos noutro mundo e com outro padrão de justiça.  O que se quer então? È que a autoridade da instituição educacional tome com determinação a atitude necessária para restabelecer a saúde do lugar que administra. Ao finalizar sua fala da forma como finalizou, dá margem para que tudo termine sem grandes consequências para os estúpidos estudantes que fizeram de suas colegas "vacas" de uma rodeio. A que ponto nós chegamos!!

"Um grupo de alunos da Universidade Estadual Paulista, uma das mais importantes do país, organizou uma "competição", batizada de "Rodeio das Gordas", cujo objetivo era agarrar suas colegas, de preferências as obesas, e tentar simular um rodeio -ficando o maior tempo possível sobre a presa.

A agressão ocorreu no InterUnesp 2010, jogos universitários realizados em Araraquara, de 10 a 13 de outubro.

Anunciado como o maior do país, o evento esportivo e cultural, que reuniu 15 mil universitários de 23 campi da Unesp, virou palco de agressão para alunas obesas.

Roberto Negrini, estudante do campus de Assis, um dos organizadores do "rodeio das gordas" e criador da comunidade do Orkut sobre o tema, diz que a prática era "só uma brincadeira".

Segundo ele, mais de 50 rapazes de diversos campi participavam. Conta que, primeiro, o jovem se aproximava da menina, jogando conversa fora -"onde você estuda?", entre outras perguntas típicas de paquera.

Em seguida, começava a agressão. "O rodeio consistia em pegar as garotas mais gordas que circulavam nas festas e agarrá-las como fazem os peões nas arenas", relata Mayara Curcio, 20, aluna do quarto ano de psicologia, que participa do grupo de 60 estudantes que se mobilizaram contra o bullying.

No Orkut, os participantes estipulavam regras para futuras competições, entre elas cronometrar as performances dos "peões" e premiar quem ficasse mais tempo em cima das garotas com um abadá e uma caneca. Há relatos de gritos de incentivo: "Pula, gorda bandida".

Com a repercussão, a página do site de relacionamento foi excluída. Cópias dos posts espalharam-se pelo campus em Assis.

Em murais aparecem frases como "Unesp = Uniban", referência ao caso a Geisy Arruda, que foi xingada por usar um vestido curto.

As vítimas não querem falar. "Uma das meninas está tão abalada que não teve condições de voltar à faculdade. Teme ficar conhecida como "a gorda do rodeio'", afirma a advogada Fernanda Nigro, que acompanhou, na última terça-feira, uma manifestação de repúdio.

O grupo foi recebido pelo vice-diretor da Faculdade de Ciências e Letras, do Campus de Assis, Ivan Esperança. "Vamos ouvir os envolvidos e estudar as medidas disciplinares, mas não queremos estabelecer um processo inquisitório",