sexta-feira, 23 de março de 2007

Registro 15: Pra quem gosta de ler poesia

NOTURNO NO PARQUE ANTÁRCTICA


Ilka Brunhilde Laurito


Os cavalos do carrossel do Parque Antárctica
galopavam garbosos ao cair da tarde.
As amazona-meninas de vestidos de organdi
corriam prados, planuras e campinas,
cavalgando valsas, esporeando a pianola.
E o palhaço colorido ia e vinha,
escolhendo montarias, empinando cabriolas,
esbanjando balas, beijos, guizos.
Risos. Como ele ria. Como nós ríamos. Ríamos até sem razão.


Os cavalos do carrossel do parque Antárctica
pastavam no faroeste giratório
sem bandidos, mas com um trêfego mocinho.
E as meninas ousadas, ante amor tão movediço,
disputavam o arlequinal amado,
entre colombinas fugazes repartido.
E riam, como elas riam com as risadas do inconstante,
enquanto ia ficando cada vez mais triste
o meu cavalo branco.


Até que afinal o palhaço galopou a meu lado,
e em três compassos eu lhe declarei baixinho: - Não vai embora, não.
Fica comigo.
Mas ele gargalhou festivo, enquanto a tarde se afogava
numa cascata de luminárias que acendiam meus olhos fidelíssimos.
Então, ele partiu. Eu pude ouvir os cascos do cavalo afoito
cascalhando ao lado da menina loura de blusinha de cetim.
Mas não vi o rosto dela, a traidora.
Fiquei escutando o coração pinotear em noturnal abismo.
E os risos. Ah, como eles riam, riam de mim com razão,
enquanto as luzes do Parque Antárctica boiavam líquidas
nos olhos apagados que enteviam
sucessivos palhaços em futuros circos.



Guardo o poema de Ilka Brunhilde Laurito copiado sem nenhuma referência. Ele foi me dado por uma amiga. Tanto ela quanto eu esquecemos de registrar a referência. Isso faz tanto tempo!

Gosto muito das imagens que a autora cria e o ritmo que imprime ao poema.

Quando dirigi o XVI Curso Livre de Teatro – Escola de Teatro da UFBA – 2000, utilizei o texto para uma cena de Exercícios Cênicos, mostra dos primeiros seis meses de aulas ministradas por mim (Interpretação), Marilda Santana (Técnicas vocais para a cena) e Marta Saback (Técnicas coporais para a cena).

Recentemente, Marta Gama, a aluna-atriz que dizia o poema me escreveu. Queria uma cópia. Mas o poema andava perdido em meio a bagunça dos livros que esperam serem abertos. Na ocasião não pude atender ao pedido, mas agora, ao encontrá-lo, deixo registrado para que ela consiga copiá-lo.

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