sexta-feira, 4 de março de 2011

Registro 343: Dona Aracy, O Anjo de Hamburgo

Lá se foi dona Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, aos 102 anos, uma benfeitora da humanidade. Conheci dona Aracy já idosa, mas muito lúcida, sempre elegante. Este privilégio devo ao meu amigo, o professor Wellington Vieira de Camargo com quem trabalhei no Ginásio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem.

Eu conhecia um dos netos de dona Aracy, o saudoso Plínio Tess, mas Wellington me aproximou da família, gente discreta, de carinhosa acolhida. Certa feita, seu filho, Eduardo Tess presenteou-me com uma caixa contendo toda a obra de Guimarães Rosa. Anos mais tarde recebi o livro que traz a correspondência entre o avô Rosa e as netas Vera e Beatriz. O livro, Ooó do Vovô (EDUSP, PUC Minas, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo), é delicioso.

Quando recebi a obra de Guimarães Rosa não contive o ímpeto de solicitar o autógrafo de dona Aracy, mas não querendo incomoda-lá com o meu pedido, pedi ajuda a uma das netas. O meu exemplar de Grande Sertão, Veredas, dedicado a ela pelo escritor, ganhou sua assinatura.

Para os que não sabem, dona Aracy é chamada de O Anjo de Hamburgo por ter salvo muitos judeus, conseguindo  vistos assinados pelo marido, cônsul-adjunto brasileiro na Alemanha, quando Hitler entendeu de exterminar os judeus da face da terra.

O trabalho no consulado facilitou a atividade subversiva de dona Aracy. Subversiva porque vivíamos sob o Estado Novo, a ditadura getulista simpatizante da política do Eixo. Para sorte de muitos, dona Aracy estava no lugar certo e na hora certa. Ela era encarregada do setor de vistos da embaixada e foi assim que atuou, indo de encontro às normas do governo brasileiro quanto a imigração de judeus. E tudo começou quando Hitler iniciou a perseguição com a Noite dos Cristais, ataque de grupos de nazistas as sinagogas e lojas, em 9 de novembro de 1938. Por sua solidariedade, dona Aracy tem seu nome inscrito no Jardim dos Justos entre as Nações do Museu do Holocausto de Israel, honra concedida aos não judeus que arriscaram a vida para salvar judeus do extermínio nazista.

Lembro que, ao frequentar a casa da família, encontrei-me com uma senhora salva por dona Aracy e que se tornou sua amiga, visitando-a constantemente apesar da idade. Soube hoje que Maria Margareth Bertel Levy, a amiga alemã vinda para o Brasil, ajudada por dona Aracy,faleceu no dia 21 de fevereiro aos 102 anos.  


Dona Aracy nasceu na cidade de Rio Negro, Paraná, em 20 de abril de 1908. Sinto orgulho de ter nascido no mesmo dia em que ela. Seu pai era português e sua mãe alemã. Casou-se com Johan Tesse, separando-se dele num tempo em que no Brasil não havia divórcio, uma prova do quão arrojada era está mulher, culta e poliglota, por quem Guimarães Rosa se apaixonou, quando a conheceu trabalhando no consulado em Hamburgo.

Flores para Dona Aracy (1908-2011), e a minha homenagem.


O texto seguinte não é de minha autoria, recebi-o por e-mail, com solicitação para divulgá-lo. Acho oportuno publicá-lo junto a homenagem que presto a dona Aracy


"Irena Sendler, uma senhora de 98 anos, faleceu há pouco tempo. Durante a 2ª Guerra Mundial, Irena conseguiu uma autorização para trabalhar no Gueto de Varsóvia, como especialista de canalizações.  Mas os seus planos iam mais além... Sabia quais eram os planos dos nazistas relativamente aos judeus (sendo alemã)! Irena leva crianças escondidas no fundo da sua caixa de ferramentas e levava um saco de sarapilheira na parte de trás da sua caminhoneta (para crianças de maior tamanho). Também levava na parte de trás da caminhoneta um cão a quem ensinara a ladrar aos soldados nazis quando entrava e saia do Gueto. Claro que os soldados não queriam nada com o cão e o ladrar deste encobria qualquer ruído que os meninos pudessem fazer. Enquanto conseguiu manter este trabalho, conseguiu retirar e salvar cerca de 2500 crianças. Por fim os nazistas apanharam-na e partiram-lhe ambas as pernas, braços e prenderam-na brutalmente.

Irena mantinha um registo com o nome de todas as crianças que conseguiu retirar do Gueto, que guardava num frasco de vidro enterrado debaixo de uma árvore no seu jardim. Depois de terminada a guerra tentou localizar os pais que tivessem sobrevivido e reunir a família. A maioria tinha sido levada para as câmaras de gás. Para aqueles que tinham perdido os pais ajudou a encontrar casas de acolhimento ou pais adotivos.

No ano passado foi proposta para receber o Prêmio Nobel da Paz... mas não foi selecionada. Quem o recebeu foi Al Gore por uns dispositivos sobre o Aquecimento Global.Não permitamos que alguma vez esta Senhora seja esquecida!! Estou transportando o meu grão de areia, reenviando esta mensagem. Espero que faças o mesmo. Passaram já mais de 60 anos, desde que terminou a 2ª Guerra Mundial na Europa. Este e-mail está a ser reenviado como uma cadeia comemorativa, em memória dos 6 milhões de judeus, 20 milhões de russos, 10 milhões de cristãos e 1.900 sacerdotes católicos que foram assassinados, massacrados, violados, mortos à fome e humilhados com os povos da Alemanha e Rússia olhando para o outro lado. Agora, mais do que nunca, com tantos governos e sociedades e proclamando vergonhosamente que o Holocausto é um mito, é imperativo assegurar que o Mundo nunca esqueça."

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