Muitas são as razões para a escolha de um tema de pesquisa e estudo. Uma delas é a paixão pelo conhecimento. E essa paixão norteou todo o trabalho desenvolvido em torno do objeto escolhido. Junte-se a ela o querer saber um pouco mais sobre a história do teatro na Bahia, seus caminhos e descaminhos – tema vasto que requer vários estudos e estudiosos que queiram se debruçar sobre o fazer teatral na Cidade do Salvador. Algumas obras foram escritas abordando diversos ângulos dessa história. Outras deverão ser feitas. Espera-se que este trabalho, ao se somar ao existente, contribua para aqueles que venham a se debruçar sobre a temática, observando-a sob novos ângulos e, sobretudo, preenchendo os aspectos lacunares aqui existentes. Esse livro é derivado da dissertação de mestrado apresentada publicamente em 2003, no Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas – UFBA. Por sugestão da banca examinadora, fizemos alterações no texto original.
Uma outra razão norteia a escolha temática e remete-nos ao deslumbrante, incrível e pesado 1968, “ano que não acabou”, no dizer de Zuenir Ventura. Nesse ano ingressamos na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia como aluno do Curso de Formação do Ator, concluído em 1971. Desse processo de aprendizagem muita coisa positiva encontra-se sedimentada na nossa formação e crescimento como ser humano, como profissional. Quanto a esses aspectos, não cabe aqui discorrer sobre eles. Mas, em virtude da escolha do tema aqui desenvolvido, é importante que se registre o fascínio exercido pela Escola de Teatro do tempo em que Martim Gonçalves era seu diretor.
Na época em que ingressamos na Escola, havia um sentimento de nostalgia, uma saudade pelo tempo vivido. Cultuava-se aquele tempo como sendo um momento ímpar e grandioso do teatro na Bahia, algo que se perdera, não havendo possibilidade de ser retomado. A nostalgia parecia-nos um sentimento paralisante, que não acrescentava muito às demandas da própria Escola e principalmente do momento histórico que se vivia. Ao lado dos nostálgicos, viviam aqueles que destilavam suas críticas ao que se fizera, aos resquícios daquela momentosa criação de Edgard Santos e Martim Gonçalves. Ponderemos, no entanto, que havia mais ressentimento destrutivo do que uma crítica objetiva ao trabalho feito na Escola de Teatro.
Da mesma forma que a atitude nostálgica, a ressentida era também paralisadora. Assim, aquele espaço de ensino e encenação mostrava-se aquém da efervescência criativa e modernizadora que o caracterizara nos seus primórdios. E tudo isso num momento em que o país parecia explodir em radicalizações estéticas, políticas, sociais que teriam como resposta o Ato Institucional n° 5, na malfadada noite de 13 de dezembro de 1968.
Vivendo entre as duas atitudes, terminamos por seguir os contestadores sem nos preocuparmos em avaliar o que realmente significara aquela época, marco renovador da encenação na Bahia, embora no íntimo existisse o fascínio por aquela ação desencadeada nos anos de 1950. Passados mais de trinta anos, diante do imperativo de darmos continuidade aos estudos universitários, eis que “somos tocados por um sopro do ar que foi respirado antes”, como nos indica Walter Benjamin em sua Tese número 3, Sobre o conceito da história. O passado da Escola de Teatro se nos apresenta “como uma imagem que relampeja irreversivelmente, no momento em que é reconhecida”, metáfora benjaminiana aqui agregada para esclarecer uma escolha que se tornou necessária e vital para compreendê-lo.
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LEÃO, Raimundo Matos de. Abertura para outra cena: o moderno teatro na Bahia. Salvador: Fundação Gregório de Matos; Edufba, 2006, p. 13-14.
Na época em que ingressamos na Escola, havia um sentimento de nostalgia, uma saudade pelo tempo vivido. Cultuava-se aquele tempo como sendo um momento ímpar e grandioso do teatro na Bahia, algo que se perdera, não havendo possibilidade de ser retomado. A nostalgia parecia-nos um sentimento paralisante, que não acrescentava muito às demandas da própria Escola e principalmente do momento histórico que se vivia. Ao lado dos nostálgicos, viviam aqueles que destilavam suas críticas ao que se fizera, aos resquícios daquela momentosa criação de Edgard Santos e Martim Gonçalves. Ponderemos, no entanto, que havia mais ressentimento destrutivo do que uma crítica objetiva ao trabalho feito na Escola de Teatro.
Da mesma forma que a atitude nostálgica, a ressentida era também paralisadora. Assim, aquele espaço de ensino e encenação mostrava-se aquém da efervescência criativa e modernizadora que o caracterizara nos seus primórdios. E tudo isso num momento em que o país parecia explodir em radicalizações estéticas, políticas, sociais que teriam como resposta o Ato Institucional n° 5, na malfadada noite de 13 de dezembro de 1968.
Vivendo entre as duas atitudes, terminamos por seguir os contestadores sem nos preocuparmos em avaliar o que realmente significara aquela época, marco renovador da encenação na Bahia, embora no íntimo existisse o fascínio por aquela ação desencadeada nos anos de 1950. Passados mais de trinta anos, diante do imperativo de darmos continuidade aos estudos universitários, eis que “somos tocados por um sopro do ar que foi respirado antes”, como nos indica Walter Benjamin em sua Tese número 3, Sobre o conceito da história. O passado da Escola de Teatro se nos apresenta “como uma imagem que relampeja irreversivelmente, no momento em que é reconhecida”, metáfora benjaminiana aqui agregada para esclarecer uma escolha que se tornou necessária e vital para compreendê-lo.
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LEÃO, Raimundo Matos de. Abertura para outra cena: o moderno teatro na Bahia. Salvador: Fundação Gregório de Matos; Edufba, 2006, p. 13-14.
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