sexta-feira, 27 de abril de 2007

Registro 56: Dois poemas

As respigadeiras, Millet
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Fernando Pessoa (Lisboa, 13/6/1888 – 30/11/1935)


Ela canta, pobre ceifeira (1914) – Cancioneiro

Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,

Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões p’ra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ’stá pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!

Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro!
Tornai Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!


Pessoa, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, 1 v.

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A CEIFEIRA SOLITÁRIA

(William Wordsworth)

No campo, vede-a, tão sozinha;
ceifa e canta só para si –
das terras altas a mocinha!
Quem vem ou vai, que pare aqui!
Corta, sozinha, e empilha o grão,
e canta uma triste canção.
Oh, ouvi! que sobre o fundo vale
seu belo cântico se exale.

Jamais cantou um rouxinol
notas mais doces aos viajantes
da Arábia, que fugindo ao sol
buscam as sombras refrescantes:
com mais doçura ou amavio
não canta o cuco num estio,
rompendo a plácida quietude
do oceano ao longe e da amplitude.

Quem me dirá o que ela canta?
Talvez que falem essas notas
de velha coisa, que quebranta,
e antigas pugnas e derrotas:
ou será só o humilde cantar
de algum assunto familiar?
De alguma perda, algum sentir
que já se foi, ou pode vir?

Fosse o que fosse, ela cantava
uma cantiga prolongada,
e em seu trabalho eu a escutava,
sobre uma foice recurvada;
eu a escutava, imóvel, quieto;
e por longo tempo, enquanto ia,
levei o canto no meu peito,
depois que já não mais o ouvia.

(Tradução de Renato Suttana)

Registro 55: Cenas de cinema


Deus e o Diabo na Terra do Sol, Othon Bastos






Central do Brasil, Vinícius de Oliveira e Fernanda Montenegro













Rocco e Seus Irmãos, Renato Salvatore e Alain Delon













O Pagador de Promessas, Leonardo Vilar


Macunaíma, Grande Otelo

O Leopardo, Claudia Cardinale,Paolo Stoppa e Alain Delon


Butch Cassidy, Robert Redford e Paul Newmann