quarta-feira, 18 de março de 2009

Registro 250: Duas ou três coisas sobre Lispector

Clarice Lispector e seu cachorro Ulisses, s.d., sem crédito autoral
Não sou um conhecedor da obra de Clarice Lispcetor. Fiz leituras dispersas de alguns de seus livros, mas fui irremediavelmente tocado por A Hora da Estrela. Dizem os doutos ser o livro mais fácil da escritora. Paciência. Eu gosto muito de A Hora da Estrela. Fiz até uma adaptação para o teatro, lida por Fauzi Arap, amigo da escritora e amante de seus escritos. A adaptação se perdeu. Deve ter caído do caminhão de mudança e se espalhado pelas ruas que nem cachorro que ninguém quer. Fiz tantas mudanças e nem sei quando perdi os papéis amarelados cujo texto datilografado já estava desaparecendo.
Fauzi levou para o palco Perto do Coração Selvagem (1965), e adaptou A Paixão Segundo G.H. encenada por Henrique Diaz (2002) e incluiu trechos de Clarice Lispector nos shows que dirigiu para Maria Bethânia, fã confessa da escritora nascida na Ucrânia, mas tão pernambucana quanto Bandeira, Suassuna, Cabral de Melo Neto e outros tantos de boa cepa recifense.
Acompanhei de perto a montagem de Um Sopro de Vida (1979), a bela encenação que José Possi Neto fez para Marilena Ansaldi. Logo depois fui convidado pelos dois para fazer Geni. Por essa época conheci Olga Borelli, amiga de Clarice Lispector, companheira nos seus últimos momentos entre nós. A fota que ilustra esse registro foi um presente que recebi dela.
Hoje, encontrei-me com Meran Vargens que retoma a sua encenação de A Hora da Estrela, um espetáculo que vi em Salvador em 2003. Encenação inventiva, com um achado cenográfico encantador. Por aqui vi também Clarices de Deborah Moreira, reunião de textos claricianos. Coincidentemente, leio Clarice em Cena: as relações entre Clarice Lispector e o teatro, de André Luís Gomes (Unb - Finatec, 2007), resultado da pesquisa que fez sobre a escritora e o teatro.
Clarice Lispector traduziu textos teatrais . Gomes apresenta quase todos eles, tece comentários sobre cada um e estabelece relações entre o conteúdo das obras e alguns livros de Lispector. Entre os textos traduzidos encontra-se Sotoba Komachi de Yukio Mishima, encenado por Herbert Machiz, diretor norte-americano (com ou sem hífen?) , com passagem pela Escola de Teatro da então Universidade da Bahia, em 1961. O espetáculo, cujo título Três Peças Modernas Japonesas, reunia além de Sotoba Komachi, O Tambor de Damasco outro texto de Mishima e o Crime de Han de Shiga Naoya, ambas traduzidas do inglês por Clarice Lispector. Coube a Martim Gonçalves criar os figurinos, seu último trabalho em Salvador antes de deixar a direção da Escola de Teatro, espaço criado por ele sob os auspícios do reitor Edgard Santos.
Pra encerrar: participo de uma pequena cena no filme de Suzana Amaral, A Hora da Estrela (1986)... Marcélia Cartaxo, inesquecível e dolorida Macabéa.