quinta-feira, 14 de abril de 2011

Registro 350: Um seguidor de Grotowski

O americano Thomas Richards, principal seguidor de Jerzy Grotowski (1933-1999) -diretor polonês que revolucionou as artes cênicas com a criação de seu "teatro pobre"-, participa do Encontro Mundial das Artes Cênicas, em Belo Horizonte.

O evento, que começou no dia 10 e vai até 1º de maio, busca refletir sobre o fazer teatral através do compartilhamento de ideias e trabalhos de artistas de diversas nacionalidades.


Richards, grande destaque da programação, apresenta através de workshops os princípios básicos da prática em performance desenvolvidos no centro de pesquisa criado por Grotowski em 1986, hoje chamado Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards.


Richards conversou com a Folha sobre sua experiência com o diretor polonês cujas pesquisas influenciam a criação teatral até hoje. 



Folha - Na sua opinião, qual foi a maior contribuição que Grotowski deu ao teatro? 

Thomas Richards - Grotowski sempre procurava a verdade, algo que ia além de formas e imitações. Sua descoberta relacionada ao impulso como fundamento da ação foi uma inovação notável que ainda hoje pode nos ajudar a tocar acordes escondidos em nós, parte do inconsciente coletivo. 



A devastação da Polônia, dizimada pela invasão nazista, foi testemunhada por Grotowski. Isso se refletiu na criação de seu teatro pobre? 

A experiência certamente o marcou, criando nele a consciência de que a história pode afetar profundamente a vida das pessoas. 



Por que após 1969 Grotowski parou de dirigir? 

Grotowski foi reconhecido como um dos maiores diretores do mundo. O caminho mais provável teria sido se prender a isso. Mas ele deixa isso pra lá e dedica-se exclusivamente às suas pesquisas. 



Por que você acha que foi escolhido por Grotowski para ser seu seguidor?

Não há mistério nisso. Como em qualquer situação profissional, houve uma demanda por competência e dedicação.Tinha acabado de me formar na Universidade de Yale. Estava com 22 anos, insatisfeito, sentindo que algo dentro de mim precisava ser revelado. Ele estava entrando na última fase de sua vida, precisava passar seu conhecimento. 



Qual foi o grande ensinamento que você teve com ele? 

Ele me fez responder uma pergunta que eu tinha, mas não conseguia formular. Quando eu o conheci, minha sensação é de que estava sufocando. Seu trabalho tende para uma espécie de reconexão. Nossas pesquisas para esse tipo de despertar são baseadas num trabalho diário, que dura uma vida. 



Como seu centro de pesquisa faz avançar o pensamento de Grotowski?

Nós nos esforçamos para criar uma contracorrente que impulsiona o ser humano a restabelecer uma ligação humana, mesmo que isso vá contra os nossos desejos de isolamento e proteção. 



Qual será o foco de seu workshop no Brasil?

Artistas brasileiros terão oportunidade de participar da nossa prática pela primeira vez. Vamos investigar elementos essenciais do nosso trabalho, como contato, impulso, intenção, ação, reação, e explorar razões que levam artistas à criação.



Folha de S. Paulo 12 de abril de 2011. Entrevista concedida à jornalista Gabriela Mellão

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