quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Registro 333: Tempo de Natal e de outros eventos


Vivemos o Natal no Ocidente cristão.
Mas o Natal mercadoria é comemorado por todos no Ocidente capitalista.

O espírito natalino se espraia...

Eu me lembro dos Natais da minha infância quando meu pai preparava uma performance com Corró, um negro baixinho, vestido de Papai Noel e umas meninas amigas de minhas irmãs fantasiadas com trajes carnavalescos. Ao som daquela tristíssima canção de Assis Valente, Boas Festas, as meninas dançavam em torno de Papai Noel. O número era apresentado no palco do Cine Teatro Cliper, de propriedade de meu pai, antes da matinê.

Corró era festeiro. No carnaval, ele comandava uma batucada,  e desfilava montado numa burrinha feita de papelão e chitão toda enfeita de fitas coloridas, um objeto muito usado nos festejos populares do Nordeste. Mas no Natal, empenhava-se em representar Noel. Se Al Johnson pintado de preto fez o Cantor de Jazz, por que Corró não podia representar o bom velhinho sem precisar disfarçar sua pele negra?

Pensando bem era um anti-Natal. Mas nós, crianças de Ipirá, não víamos nada de anormal na performance, com seus elementos críticos. Talvez meu pai não imaginasse efeito tão insólito quando imaginou a cena. Havia ali naquele palco, cuja ribalta era iluminada com luzes verdes, vermelhas, azuis e amarelas, a junção de elementos tão díspares, mas integrados numa comunhão bem típica da nossa formação enquanto nação...

Lembro-me também do Natal em que meu pai armou um enorme presépio no salão do Grupo Escola Góis Calmon. Na época, já adolescente bem taludo e com veleidades artísticas, fui convocado para pintar montanhas cenográficas para compor um horizonte, cujo azul celeste indicava mais dia que noite.

Semanas antes de abrir o presépio aos visitantes, eu acompanhei meu pai pelas ruas da periferia distribuindo uma senha para as crianças e outra para os idosos. Tais senhas davam direito a um brinquedo, naturalmente para as crianças, e um cobertor Dorme-bem para os idosos. Dia marcado, ele recebia no salão do Grupo Escolar todos aqueles que tinham a senha. Lá estava eu servindo de ajudante.

Anos depois, o presépio era armado em casa. Depois de sua morte em janeiro de 1975, o presépio ficou como herança de minha irmã, que ao se tornar evangélica passou as imagens para outra pessoa. Não sei qual o fim do presépio.

Certa feita, meu pai cobriu uma árvore seca com algodão enfeitando-a com bolas enormes e luzes coloridas, mas não dessas luzes made in China. Eu, já rapaz, ingressando na universidade, achei um despropósito a tal árvore nevada. Essa árvore, penso agora, simbolizava para meu pai um sertão aguado, irrigado, próspero.

Tendo como suporte um tonel pintado de vermelho, a imensa árvore foi colocada na avenida principal da cidade. Mas na noite de 31 de dezembro, por conta de uma briga, botaram abaixo a Árvore de Natal. Os fofoqueiros se encarregaram de espalhar que o vandalismo era decorrente das inimizades político-partidária que meu pai amealhou durante parte de sua vida.

Embora crítico, eu gostava de ver a natalina árvore iluminada.

Para rememorar os festejos de meu pai, este ano armei um pequeno presépio. Fosse vivo, ele estaria comemorando 92 anos. Morreu meu pai aos 57, mas deixou um legado imaterial que sedimentou a minha vida e orientou as minhas escolhas.
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Teatro - Indicações para o Prêmio Braskem

Aproveito para parabenizar a atriz Margarida Laporte por ter sido indicada como Revelação por sua interpretação em Partiste, texto e encenação de Paulo Henrique Alcântara. A peça encerrou as atividades do curso de Artes Cênicas da Faculdade Social em junho passado. A delicada e tocante criação de Margarida infundia ternura e graça na cena. Inesquecível no personagem da Mãe. Além de atriz, Margarida é dona, com seu companheiro, da melhor sorveteria de Salvador, a Glacie Laporte.

Meus parabéns para Jacyan Castilho indicada para Melhor Atriz. Caso leve o prêmio é merecedora. Seu trabalho em A Cela é uma criação poderosa. Yumara Rodrigues também foi indicada, merece um prêmio especial por sua carreira. Não posso falar das outras atrizes indicadas (Andrea Elia, Claudia di Moura, Evelyn Buchegger), pois não vi suas atuações. São talentosas, tanto quanto Jacyan e Yumara.

Jarbas Olivier merece o prêmio de Melhor Ator.

Lamento não ter visto as encenações de As Velhas (direção de Luiz Marfuz) e de Pólvora e Poesia (direção de Fernando Guerreiro).

Livro

Soube pelo editor (Saraiva) que meu primeiro livro para criança Um Muro no Meio do Caminho?? será reeditado em 2011. O livro sai pela Atual, um selo da Saraiva. Na primeira edição, década de 80, o livro fazia parte de uma coleção organizada por Fanny Abramovich. Por conta do Plano Collor, a primeira edição, por outra editora, não mereceu a devida atenção. Mas quem podia prestar atenção em alguma coisa naquele momento, quando sofríamos o confisco do nosso dinheiro, ou melhor o roubo. Tristes tempos aqueles


Um grito de liberdade contra a bárbarie

Grito por Jafar Panahi, o cineasta condenado pelo governo do Irã. Seu crime: discordar.

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