sábado, 20 de setembro de 2008
Registro 207: Ida e volta
marcos sagrados ao longo do caminho.
Sigo de ônibus... pelas janelas vejo a vida que passa.
Penso naqueles que foram abatidos pela intolerância
de ontem, e sobretudo de agora.
Intolerância gerada pelo capital da fé.
Irmãozinho, o que interessa é a grana.
Meu coração, terra sagrada, abriga o indizível
As máscaras vazias poluem a cidade
são caretas assustadoras.
De suas bocarras saem sorrisos congelados.
Palavras matraqueadas
De-co-ra-das, des-co-ra-das.
Batatadas
Desvitalizadas
Saio da livraria cuidando amorosamente
de Cartas a D.
Basta o primeiro parágrafo...
Parado no ponto de ônibus, eu me lembro de
Ensaio sobre a cegueira, o filme.
Branco
sábado, 13 de setembro de 2008
Registro 206: Comentário sobre Linha de Passe
domingo, 7 de setembro de 2008
Registro 205: Linha de Passe Adianta a Bola do Cinema Brasileiro
Não farei um resumo detalhado do seu enredo simples, mas não simplista. Para situar o leitor, localizo o centro de onde partem os acontecimentos do filme.
Cada filho dessa família tem um desejo que se configura na vontade e nas ações para realizá-lo. O mais novo é Reginaldo (Kaique de Jesus Santos), obcecado, vive a procura do pai que ele sabe ser motorista de ônibus. Dario (Vinícius de Oliveira) sonha tornar-se jogador profissional. Sua batalha é tentar passar na seleção realizada por olheiros dos médios e grandes times, mas vai sofrer os limites da idade. Ao completar 18, já não interessa. É velho para o mundo do futebol. Denis (João Baldasserini) trabalha é moto-boy, tem um filho com uma namorada, com quem não vive. Dinho (José Geraldo Rodrigues), é arrimo de família, ajuda a mãe no sustento da casa, trabalhando como frentista. Dinho é evangélico, freqüenta a igreja e atua junto ao pastor. A mãe, Cleuza (Sandra Corveloni, Palma de Ouro de Melhor Atriz em Cannes, 2008), grávida pela quinta vez, sem que se saiba quem é o pai, trabalha como empregada doméstica. Torcedora do Corinthians, assume o papel materno e paterno sustentando o lar num equilíbrio delicado.
Walter Salles e Daniela Thomas, tomam essas situações e não carregam a mão no drama. A secura perpassa o filme desde sua exposição inicial até o último instante. Eles não deixam espaço para o sentimentalismo lacrimoso ou piegas. Ao mesmo tempo, tratam seus personagens carinhosamente. Sem idealizá-los, mostram como eles são, como eles reagem no interior das circunstâncias e como cometem pequenas falhas. Os diretores orquestram a história de vida de cada um dos personagens durante alguns meses. Nesse tempo, os acontecimentos narrados prefiguram sempre a iminência do dramático. Optam pela ficção, mas dão um tratamento quase documental ao material. Fazem isso com habilidade, ainda que deixem lacunas, principalmente na amarração final na trajetória de cada filho. A opção por deixar em aberto pode não satisfazer a maioria dos espectadores, principalmente aqueles que estão acostumados a filmes cujas histórias se desenrolam obedecendo à clássica estrutura de começo, meio e fim bem amarrados. Essas omissões não chegam a perturbar o conjunto da obra. Ao finalizar a narrativa, ou melhor, as pequenas narrativas que formam o todo de Linha de Passe, Walter Salles e Daniela Thomas deixam que o espectador complete os finais. Para isso oferecem pistas ao longo do filme.
Sobre as interpretações, é notável sua condução. Os diretores retiram dos seus intérpretes o melhor. E não apenas do quinteto central, muito bem afinado, já que os atores foram bem escolhidos e adequam-se aos personagens. Eles são a alma do filme. Em meio às ótimas interpretações ressalta a criação de Sandra Corveloni. Sem grandiloqüência, visto que o personagem não pede esse registro, a atriz constrói Cleuza com pequenos gestos, olhares reveladores do que se passa em seu íntimo e falas cujas entonações precisas revelam a compreensão do personagem e do lugar onde ele está situado.
O elenco secundário, formado por atores com experiência em teatro, torna os personagens críveis, ainda que as suas participações sejam pequenas. Mas destacam-se as atuações de Fernando Bezerra, o preparador de Dario, de Gabriela Rabelo, a senhora paralítica, de Denise Weinberg, a patroa de Cleuza, além de Luiz Serra e Norival Riso.
Um destaque do filme é a escolha de São Paulo como locus da ação. A cidade, sua imensidão, seu descontrole, servem de moldura para história tratada com sensibilidade já demonstrada pelos diretores. A direção de arte soube captar com precisão os ambientes, da mesma forma que a música que se faz ouvir sem estardalhaço, mas cria o clima sonoro para os personagens se exponham à luz dos refletores e para a câmera que capta as nuances de suas interpretações
Não farei um resumo detalhado do seu enredo simples, mas não simplista. Para situar o leitor, localizo o centro de onde parte os acontecimentos do filme.
Cada filho dessa família tem um desejo que se configura na vontade e nas ações para realizá-lo. O mais novo é Reginaldo (Kaique de Jesus Santos), obcecado, vive a procura do pai que ele sabe ser motorista de ônibus. Dario (Vinícius de Oliveira) sonha tornar-se jogador profissional. Sua batalha é tentar passar na seleção realizada por olheiros dos médios e grandes times, mas vai sofrer os limites da idade. Ao completar 18, já não interessa. É velho para o mundo do futebol. Denis (João Baldasserini) trabalha como é moto-boy, tem um filho com uma namorada, com quem não vive. Dinho (José Geraldo Rodrigues), é arrimo de família, ajuda a mãe no sustento da casa, trabalhando como frentista. Dinho é evangélico, freqüenta a igreja e atua junto ao pastor. A mãe, Cleuza (Sandra Corveloni, Palma de Ouro de Melhor Atriz em Cannes, 2008), grávida pela quinta vez, sem que se saiba quem é o pai, trabalha como empregada doméstica e está grávida.Torcedora do Corinthians, assume o papel materno e paterno sustentando o lar num equilíbrio delicado.