Grandiosa a abertura dos Jogos Olímpicos na China. Um show ilimitado de progresso e tecnologia. Penso que os crentes nas benesses do progresso ficaram fascinados. Confesso que fiquei também! Mas, ao longo do monumental show, pensei: os poderosos de plantão escrevem a história de forma a empurrar para baixo do tapete o que é incomodo. Essa prática não é de agora. Na União Soviética, quando do tacão stalinista, apagaram-se das fotografias todos aqueles que discordaram dos (des) caminhos que a revolução tomou a partir da entronização do grande ditador no poder. Os grandes ditadores agem da mesma forma.
Apagar das fotografias os indesejáveis é um ato terrível, mas se comparado ao extermínio moral e físico parece bobagem. Com isso não minimizo o ato de apagamento. Fotos são documentos necessários para se contar a história. A pesquisa social necessita delas também; “considera-se a fotografia como índice, marca de uma materialidade passada, na qual objetos, pessoas, lugares, nos informam sobre determinados aspectos desse passado” (MAUAD, 2004, p. 22). A fotografia também é um símbolo; nela está fixado o passado, aquilo que os antecessores escolheram para registra e legar ao futuro.
Mas voltemos ao assunto inicial. A digressão tem o efeito de ampliar o que segue:
As gerações vindouras verão as fotos da festa olímpica, festividade política estetizada. Nelas estarão registrados momentos de intensa beleza. Espertamente, as autoridades chinesas contaram a história que no momento lhes interessa: o momentoso passado da civilização milenar. Passado que foi soterrado, posto na sombra e destruído pela Revolução Cultural desencadeada por Mao Tsé-Tung. O filme Adeus Minha Concubina, de Chen Kaige, diz muito bem o que aconteceu no período. O Grande Timoneiro pôs por terra a vida cultural chinesa, sua rica história, sua filosofia e sua arte, considerando-as desvios nos caminhos do novo homem que surgiria livre da tradição e de uma sociedade assentada na rígida divisão de classes a ser superada pela igualdade comunista. O pensamento único deu no que deu. Destruição em massa de pessoas e do passado.
É certo que as ideias contidas no Livro Vermelho mexeram com a cabeça de grande parte da juventude durante a década de sessenta. O curioso é que o show na quadra de atletismo do Ninho do Pássaro, o estádio de formas inventivas, não mostrou o que a Revolução Cultural propunha e fez. Mostrou-se a tradição, aquilo que foi renegado como um mal a ser exterminado da face do “planeta” China. Não creio que os ensinamentos de Mao estão renegados pelos chineses, principalmente por aqueles que estão no poder. Talvez por ser um momento de grandes contradições e de violência exacerbada, rememorar a Revolução Cultural pode destoar do espetáculo na era da globalização.
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MAUD, Ana Maria. Fotografia e história, possibilidade de análise. In: CIAVATTA, Maria e ALVES, Nilda (orgs.). A leitura de Imagens na Pesquisa Social. São Paulo: Cortez, 2004.
MAUD, Ana Maria. Fotografia e história, possibilidade de análise. In: CIAVATTA, Maria e ALVES, Nilda (orgs.). A leitura de Imagens na Pesquisa Social. São Paulo: Cortez, 2004.
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