Cléo Martins
Membro da União Brasileira de Escritores
Há sete dias sobrevivo à virose patropi; aos costumes, entre nós cidadãos brasileiros. Agora, estou viva, penso em Avicena, o “príncipe dos médicos persas”, no combate à peste bubônica, na alta Idade Média. O professor mulçumano é personagem de Noah Gordon, romancista de quem sou fã de carteirinha. Vale a pena a deliciosa leitura de The physician, cuja tradução em português – O físico, deixa a desejar e dói.
Neste meio século sob o sol e à sombra, jamais padecera de calafrios encharcados. A virose me pegou feito neblina, última sexta. De repente, não mais que de repente. Dirigia lamentando a morte de Dinha do Acarajé, a simpática baiana que levou sua terra para mais adiante. Que Deus a tenha em Si. A memória da famosa quituteira foi reverenciada dia 20, na Câmara dos Vereadores; iniciativa de Olívia Santana, a Negona. Esta virose maledeta me impediu de comparecer a tudo que não fosse imperiosamente necessidade profissional. Deixei de participar do Encontro de Corais na Reitoria da Ufba e festividades dedicadas a Oxóssi, no Corpus Christi, em venerandos terreiros de Salvador.
Somente a chegada de meu novo livro Nanã, a senhora dos primórdios – uma realização da editora Pallas do Rio de Janeiro – conseguiu trazer-me um pouquinho de energia e o esboço de sorriso, Em breve, nas livrarias.
Fazendo-me mais forte do que sou, aproveitei o recesso para ler as novidades e reler livros de outras épocas. Adoro ler. O falecimento de Zélia Gattai – que perda lamentável para a cultura brasileira – fez com que lese, novamente, o superclássico Anarquistas graças a Deus: viagem à velha São Paulo dos bravos paisá. A literatura nacional cresceu muito a partir dessa obra da escritora, que tive o prazer de conhecer em 1992, no Axé Opô Afonjá, apresentada por Antonio Olinto, o magnífico autor de A Casa da Água, membro da Academia Brasileira de Letras, então colega de Jorge Amado. A escritora Zora Seljan, esposa de Olinto, falecida há pouco mais de três anos, esbanjava saúde e simpatia. Haveríamos de nos encontrar em Londres, em 1994.
Outro livro supimpa me caiu às mãos, Da Costa do Ouro – publicação da Editora Saraiva (2001) -, do escritor baiano Raimundo Matos de Leão. Recebeu, em 2002, o prêmio literário Adolfo Aizen, de literatura infantil e juvenil, na categoria romance histórico da união Brasileira de Escritores.
O tema gira sobre questões raramente exploradas da literatura do País: a problemática da cultura africana; os preconceitos, diferenças e semelhanças entre as religiões, buscando enfatizar a pluralidade cultural, a ética e o respeito à diversidade.
A trama se desenvolve aqui na cidade da Bahia, ao tempo da Revolta dos Malês, em 1835. Os jovens precisam ler esta obra sensível deste Brasil que haverá de se livrar da dengue e inominadas viroses. Com fé em Deus, minha gente
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Publicado em A Tarde, edição de 23 de maio de 2008
Publicado em A Tarde, edição de 23 de maio de 2008
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