Oswaldo Dragún
PRÓLOGO
Público desta praça, boa-noite!
Somos os novos comediantes.
Somos atores que vão
de praça em praça, de cidade em cidade,
porém sempre adiante.
Se é certo que a vida do homem é uma estrela, que dura apenas um minuto
nesta infinita trajetória que é um dia do mundo, convenhamos que também é uma história.
Uma pequena história irrealizada, que termina às vezes antes de começar.
Uma pequena história para ser contada.
A comédia italiana era outra coisa.
Talvez fosse aquela época de rosas.
Hoje, espinhos se fincam em nossas mãos,
às vezes calosas, e então o arrancamos.
Às vezes de nuvem e naufragamos.
O bandolim quebrado do arlequim,
E hoje um trem furioso.
E o sorriso azul da colombina,
à esperança rosada de uma nova heroína.
Mãe, mulher, irmã.
Que como um ponto de interrogação,
Riscam o dia de amanhã do nosso calendário.
Mas nós sabemos, já que sendo atores, sábios somos,
que o sol chega até o berço de uma simples semente.
O homem não é mais que uma semente.
E a sua história, uma história simplesmente.
Nós existimos porque vocês existem.
Suas histórias nos pesam na alma.
e nossas mãos a choram.
Lágrimas de muito longe trazemos.
E também um riso.
Se algum de vocês, pais nossos,
tem um riso para ser rido ou uma lágrima para ser chorada,
que se aproxime ao fim da jornada de anos.
Atores, cantores, trovadores, caçadores de estrela.
Sua história contaremos lá,
Em longínquas praças, sob a lua, ou sob o sol, para muitos ou nenhum.
O importante é contá-la.
E sua pequena história irrealizada,
será outra história para ser contada.
Público desta praça. Muito obrigado.
O CENÁRIO ESTÁ VAZIO. DE DIFERENTES DIREÇÕES ENTRAM A ATRIZ I e II E OS ATORES I, II E III. SAUDAM-SE ENTRE SI E VOLTAM-SE PARA O PÚBLICO.
ATOR I – Certamente vocês não conhecem os da mesa dez.
ATOR II – Nós os conhecemos.
ATRIZ II – Ela se chamava...
ATRIZ I – Maria.
ATOR I – Ele se chamava...
ATRIZ I – José.
ATOR II – Eu fui amigo de José.
ATRIZ I – Eu fui amiga de Maria.
ATOR III – Ele e eu fomos amigos dos dois.
ATRIZ II – Nós faremos todos os personagens necessários, porém isto não é o mais importante.
ATOR I – O mais importante é a história em si, e se a contamos é porque talvez Maria e José estejam entre vocês, escutando-nos. E queremos que saibam que não os esquecemos. Foi uma história triste...
ATRIZ II – Não é verdade. Foi uma história alegre!
ATOR III – Foi muito divertida.
ATOR II – Foi muito amarga.
ATRIZ II – Ah, não! Lembro-me muito bem como começou... Com música! Concluíamos o colegial, dávamos uma festa!
JOSÉ – (ENTRANDO) Mas o caso é que eu não era estudante. Um amigo me havia trazido.
ATOR II – (A JOSÉ) Venha, José, vamos aproveitar! A Tereza vai te apresentar alguma amiga.
JOSÉ – Não, meu amigo, amanhã tenho que acordar às sete.
ATOR I – Vamos bater uma bola!
ATOR II – Porém o convenci, e veio.
ATRIZ I – E eu lhe apresentei uma amiga. Maria... Ele é amigo do meu namorado.
MARIA – Muito prazer...
JOSÉ – Igualmente, José.
ATOR III – E dançaram...
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DRAGÚN, Oswaldo. Os da mesa dez. Texto reprografado, s.d.
Em Os da Mesa Dez, Dragún mostra através dos personagens centrais, os jovens José e Maria, o amor e as esperanças dos que desejam se encontrar e viver uma relação afetiva superando os obstáculos impostos pelas convenções sociais. No enfrentamento das barreiras entre as classes, os personagens, ele mecânico e ela estudante de arquitetura, filha de uma família de classe média abastada, terão que dar conta da dura realidade imposta pelas circunstâncias, fato que os deixa inseguros na consecução dos seus objetivos. No entanto, há sempre uma esperança para esses jovens que querem tomar para si o norte das suas vidas.
Em torno do par central gravitam outros personagens: amigos, pai, mãe, irmã, envolvidos diretamente com José e Maria, compondo o painel dos conflitos matizados por cores que delineiam a ação, ora intensamente dramática, ora resvalando para situações cômicas sem que se perca a densidade das relações e da “mensagem” contida no discurso teatral de Dragún. Nos personagens que compõem as duas famílias aparecem as frustrações, as visões de mundo deformadas, determinantes das relações humanas e dos problemas decorrentes das atitudes que tomam em relação a si e aos outros. Além dos familiares, aparecem os amigos de João e Maria, compondo um rico painel de situações em que a camaradagem é marcada por imagens de uma juventude vivenciando conflitos e desejando acertar as suas vidas, da mesma forma que o casal central da peça.
Oswaldo Dragún estrutura seu texto utilizando-se de recursos narrativos permeando a ação dramática um efeito que distancia o espectador do foco emotivo para fazê-lo refletir sobre o que acontece em cena. Para o autor, seu teatro é fruto das imagens fragmentadas em núcleos que formam o painel vivo e sintético, mas não redutor. Dragún afirma: “Tenho uma mente que apanha o que está organizado e o desorganiza. Por isso, para mim é um horror escrever um ensaio, que exige o contrário (...). Meu teatro parte de uma realidade que está aparentemente organizada e a desorganiza”. Dessa forma concebe-se também a montagem de Os da Mesa Dez, realçando a poesia do texto sem que se despreze o elemento principal de sua estrutura que é a fragmentação em pequenas cenas rápidas, mas plenas de significados. Esses aspectos são enfatizados na concepção do espetáculo.
Tomam parte do elenco de Os da Mesa Dez, os alunos-atores: Antônio Abreu, Ava Catarina Palma, Barbarah Sossa, Mariana Martinez, Nilson de Oliveira, Ricardo Faria, Viviane Veiga.
Anualmente, a Cia. Experimental de Teatro da FSBA coloca em cartaz uma montagem sob a responsabilidade de um dos docentes, envolvendo os alunos de todos os semestres e diversos setores da Faculdade, firmando-se como espaço de experimentação cênica e aprendizado, conforme sua proposta, acompanhada e avaliada pela coordenação do Curso de Artes Cênicas.
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