Belo momento de Eddy Veríssimo.
Dei conta de mais um espetáculo da temporada 2010 ainda em cartaz neste verão de pouca gente indo ao teatro. Mas será o teatro uma atividade para muitos? Talvez na Grécia Antiga. Refiro-me a Mar Me Quer, espetáculo apresentado pela Outra Companhia de Teatro. Embora sem muita convivência com os participantes da Cia, todos eles me são simpáticos, principalmente Eddy Veríssimo e Roquildes Júnior, jovens que tocam o projeto e estão em cena com Luiz Buranga e Manuela Santiago, sob a direção de Luiz Antônio Jr.
Mar Me Quer é inspirado na obra do angolano Mia Couto, sendo o texto em cena derivado do trabalho de Natália Luiza e da dramaturgia de Luiz Antônio Jr. Não sei se o espetáculo foi concebido para o espaço onde é mostrado, o Café do Teatro Vila Velha, local da apresentação vista por mim. Mas vejo que o espaço escolhido proporciona um contato muito próximo do público com os atores e condiz com a concepção da encenação sua atmosfera intimista, viagem aos desvão da memória que cativa o espectador. Falo por mim
Ao rés do chão, uma lona com desenhos e inscrições desbotadas demarca o lugar da ação, cabendo ao público ocupar três lados do grande retângulo. Poucos objetos povoam a cena, entre eles um grande baú, pequenos bancos, alguns instrumentos musicais e mais outros apetrechos que são utilizados no decorrer da representação. No mais, quatro atores assumindo os personagens Zeca, Luarmina e Celestino para contar a história de Zeca em contato com seu avô morto. O que se conta é a vida decorrente da paixão por uma mulher que liga o neto ao avô Celestino, sem que Zeca saiba do acontecido entre o avô falecido e a mulher Luarmina. Outro personagem redivivo é Agualberto.
Narração dirigida ao público (forte presença do épico) e contra-cena são os elementos para que a história seja contada e os intérpretes se encarregam muito bem da ação dramática, pontuada por emoção dosada, que não faz barulho. O tom monocórdio que por vezes se impõe não diminui a atenção do espectador, visto que os atores se entregam aos personagens com muita sinceridade e delicadeza. Aliás, delicadeza cai bem para definir a encenação de Luiz Antônio Jr, que soube trabalhar o material com segurança, ainda que se deixe levar por algumas “teatrices”. Voltarei a elas.
As imagens criadas após nove meses de trabalho atestam a depuração da pesquisa cênica e a dramaturgia flui em um tônus preciso, visto que os atores sabem com que lidam e estão em sintonia com a proposta. Como não conheço o original, não posso opinar sobre a fidelidade a ele. De qualquer maneira o que está em cena satisfaz, é o que importa. Mergulhamos no terreno da memória através do diálogo entre neto e avô, conversas entremeadas de palavras inventadas, como “atarantontos” junção de atarantado e tonto, tornando o diálogo saboroso.
Um humor sutil perpassa a cena e a paixão por Luarmina surge na evocação do avô e na relação de Zeca Pérpetuo com ela. Como pano de fundo e presença poética, o mar. Elemento que dá sentido as emoções apaixonadas dois homens por uma mulher, o mar, símbolo da dinâmica da vida, é lugar de de nascimento e de transformações. Sua águas em constante movimento nos fazem pensar na transitoriedade. Ambivalente, o mar é ao mesmo tempo a imagem da vida e da morte. O mar é então uma metáfora...
A encenação segue em um ritmo bastante seguro, pontuado pela marcação simples, mas apropriada ao contexto. A iluminação de AC Costa e Marcos Dedé cria atmosfera necessária para a tessitura da encenação, com efeitos sutis variando a cada instante, procurando sempre servir à cena sem perder a sua singularidade em meio ao outros elementos. Os figurinos de tons esmaecidos estão em consonância com o espírito da montagem e ligam-se harmoniosamente ao cenário de Lorena Torres Peixoto.
As imagens criadas após nove meses de trabalho atestam a depuração da pesquisa cênica e a dramaturgia flui em um tônus preciso, visto que os atores sabem com que lidam e estão em sintonia com a proposta. Como não conheço o original, não posso opinar sobre a fidelidade a ele. De qualquer maneira o que está em cena satisfaz, é o que importa. Mergulhamos no terreno da memória através do diálogo entre neto e avô, conversas entremeadas de palavras inventadas, como “atarantontos” junção de atarantado e tonto, tornando o diálogo saboroso.
Um humor sutil perpassa a cena e a paixão por Luarmina surge na evocação do avô e na relação de Zeca Pérpetuo com ela. Como pano de fundo e presença poética, o mar. Elemento que dá sentido as emoções apaixonadas dois homens por uma mulher, o mar, símbolo da dinâmica da vida, é lugar de de nascimento e de transformações. Sua águas em constante movimento nos fazem pensar na transitoriedade. Ambivalente, o mar é ao mesmo tempo a imagem da vida e da morte. O mar é então uma metáfora...
A encenação segue em um ritmo bastante seguro, pontuado pela marcação simples, mas apropriada ao contexto. A iluminação de AC Costa e Marcos Dedé cria atmosfera necessária para a tessitura da encenação, com efeitos sutis variando a cada instante, procurando sempre servir à cena sem perder a sua singularidade em meio ao outros elementos. Os figurinos de tons esmaecidos estão em consonância com o espírito da montagem e ligam-se harmoniosamente ao cenário de Lorena Torres Peixoto.
O elenco tem um desempenho homogêneo. Durante ação, os dois atores e as duas atrizes assumem os três personagens, cada um tirando partido dos personagens que revezam entre si, sem que se perca a unidade. Insisto novamente na elocução necessitando de mais variações e do canto com mais firmeza e trabalho vocal para que a narração se faça mais intensa e o diálogo entre os personagens se faça mais variado como são os signos corporais, muito bem desenvolvidos e expressivos. Estes ajustes ampliarão a qualidade das interpretações, já amadurecidas pelo tempo de ensaio e de espetáculos realizados. Destaco a expressividade de Eddy Veríssimo e Manuela Santiago, a versatilidade de Roquildes Júnior (quando ele faz Luarmina, em nenhum momento resvala para trejeitos fáceis) e a presença marcante de Luiz Buranga.
Agora, vamos às “teatrices”: pergunto-me o porquê uma maquiagem exagerada com excessivos tons vermelhos? Não vejo sentido no todo da encenação, tornando-se um efeito duvidoso. Da mesma forma, indago sobre o motivo de uma atriz vestir tantas saias em um determinado momento. Da mesma forma questiono a presença de várias lanternas postas em um cabideiro e depois guardadas no baú, sem que se saiba a razão de estarem em cena.
É certo que o diretor pode explicar tais efeitos, mas durante a encenação me parecem ruídos desviando a atenção daquilo que é importante. Em cena, sabemos, as coisas precisam fazer sentido para o espectador e gerar um significado. Confesso não captar as intenções do encenador.
Por outro lado, ressalto a opção por uma sonoplastia feita em cena pelos atores e utilização de objetos inusuais. Retira-se deles uma sonoridade mágica que nos conduz para o interior da cena. Mais um achado da direção é fazer com que o morto fale através de um aparelho emissor de rádio portátil. O texto é reproduzido por outro aparelho encaixado no chapéu usado por Zeca. Bela mediação entre morto e vivo. Ainda mais um detalhe, não aproveitado a contento. Quando o público entra, recebe um barquinho de papel, mais tarde, os espectadores são solicitados a desmontar o brinquedo e ler o texto impresso na folha de papel, enquanto um ator diz o texto de maneira não muito segura. Penso no que seria a cena, caso o público fosse envolvido e interagisse, ocorrendo a leitura coletiva. O baú que é transformado em barco é um achado muito eficiente; num dado momento o neto conduz avô e este depois leva o barco sozinho até desaparecer nas sombra. A imagem do morto conduzindo o barco me lembrou a barca de Caronte.
Tais observações não diminuem a qualidade da encenação. Da mesma forma como agradou no recente Festival Nacional de Teatro do Recife, sei por fonte confiável, Mar Me Quer é uma realização artística de uma Companhia que vem realizando um trabalho sério e constante. Residentes no Teatro Vila Velha, diga-se um fator importante para a sobrevivência do grupo e da qualidade estética de suas criações, A Outra Companhia de Teatro nos dá um espetáculo cujos senões são pequenos diante do que apreciamos.
Longa vida é o que desejamos ao grupo que em fevereiro retorna a cartaz com Mar Me Quer, um mar querido de se ver.